Curitiba A decisão do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, foi complexa diante da divisão partidária, avalia o coordenador do Programa de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), Bernardo Kocher. "O Likud estava dividido em dois. Sharon leva com ele 14 deputados e 5 ministros." Na prática, tanto Sharon quanto o Likud perdem força num primeiro momento, o que representa uma oportunidade para os trabalhistas.
Como novo líder do Partido Trabalhista, o sindicalista Amir Peretz será o porta-voz para as questões sociais que estão reprimidas pelo conflito. "Haverá mudança política caso os trabalhistas obtenham maioria no Parlamento. Pode haver pressão para que os recursos investidos no conflito sejam empregados em problemas sociais."
Kocher aponta que o surgimento de um país social depende da capacidade de Peretz em transformar a questão trabalhista em nacional, na defesa de uma economia de mercado que respeite as leis trabalhistas. "Outra bandeira de Peretz são as políticas públicas para que não haja segregação nas periferias, como em Tel-Aviv."
Baixa anunciada
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) e da Faculdades Rio Branco, Samuel Feldberg, a decisão de Sharon de deixar o Likud e formar um novo partido já era prevista desde o momento em que ele propôs a retirada de colonos da Faixa de Gaza. "Sharon decidiu tomar as rédeas da dissolução do Parlamento antes que o governo caísse."
Apesar da mudança de rumo político, Feldberg diz que é difícil prever o que irá ocorrer.
O especialista acredita que o Partido Trabalhista tende a recusar uma coalizão com o Likud e o novo partido de Sharon poderia se unir aos diversos partidos independentes, que hoje têm pouca representatividade no Parlamento (veja aciam). "Nas eleições parlamentares, o partido de Sharon terá votação significativa porque conta com 60% do apoio popular."
Em um cenário pouco provável, aponta Feldberg, caso o Likud saia vencedor das eleições, sob a liderança de ex-premier Benjamin Netanyahu, será difícil haver continuidade da política de Sharon. Feldberg analisa que Amir Peretz estará mais centrado em questões internas, "por não ter experiência em relações internacionais".
Novidade
A figura de Peretz será uma grande mudança no cenário político, econômico e social, opina o cientista político Ely Ben Gal, que vive em Israel. "Além de ser bastante popular entre os mais pobres, Peretz representa a chance de a esquerda voltar ao poder. É provável que exija um salário mínimo de US$1mil." Mesmo se Sharon vença as eleições terá a pressão de Peretz, diz Ben Gal. "O processo de paz pode ter avanços. Sharon e Peretz podem encontrar uma linha mais pacífica para um futuro acordo", acha.
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