As ilhas do Condado de Kinmen, que fazem parte do arquipélago de Taiwan, e as tropas nacionalistas estacionadas lá resistiram ao ataque da artilharia da China muito tempo após a vitória comunista na guerra civil chinesa. Hoje, as relações entre China e Kinmen, separadas por apenas alguns quilômetros, são certamente muito diferentes.
O Condado de Kinmen, que tem aproximadamente duas vezes o tamanho de Manhattan (59 quilômetros), foi governado por Taiwan desde que os nacionalistas derrotados chegaram da China, em 1949. Porém, a ilha principal de Taiwan fica a 225 km de distância, enquanto que o continente é visível – e essa distância está se estreitando, literal e figurativamente.
Um novo aeroporto na cidade chinesa de Xiamen está sendo construído ao norte de Kinmen, em uma ilha a 5 quilômetros de distância, e a desapropriação de terras para o projeto deve aproximar o território chinês.
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A proposta de uma ponte entre Kinmen e o aeroporto de Xiamen essencialmente eliminaria a lacuna restante. No mês passado, a China começou a fornecer água potável através de uma nova tubulação de 16 quilômetros. E Kinmen em breve poderá obter eletricidade mais barata de sua outrora inimiga.
A cerimônia de 5 de agosto, para inaugurar o sistema de distribuição, mostrou o quanto Kinmen, com aproximadamente 130 mil habitantes, foi atraído para a órbita da China, cujo Partido Comunista nunca controlou Taiwan, mas quer anexá-lo.
Liu Jieyi, diretor do Escritório de Negócios em Taiwan de Pequim, aproveitou seu discurso na cerimônia para exigir que Taiwan, país independente e democrático, aceite a política da "China única", que declara que todos fazem parte do mesmo país. "A grande população de Taiwan certamente fará a escolha correta", disse Liu.
Ele, com certeza, não faria tal discurso na principal ilha de Taiwan, onde a China não é bem vista. Quando o antecessor de Liu excursionou por lá, em 2014, foi recebido com protestos em várias cidades e teve tinta jogada em seu carro.
Maior influência chinesa
Wang Ting-yu, legislador taiwanês do Partido Democrático Progressista, disse que, com a liberdade e a democracia que os moradores de Kinmen têm, era pouco provável que quisessem fazer parte da China autoritária – mas admitiu que o Partido Comunista chinês teve algum sucesso na ilha com as chamadas táticas da Frente Unida, sob as quais trabalha com grupos não comunistas para conseguir seus objetivos.
"Em relação à aproximação entre Kinmen e a China, eu diria que no momento ela ainda é duvidoso, mas não se pode negar que os recursos investidos no trabalho da Frente Unida tiveram algum efeito", disse Wang.
Chen Fu-hai, o magistrado do condado de Kinmen que compartilhou o palco com Liu na cerimônia do sistema de distribuição, disse não se incomodar com o fato de o fornecimento de água dar influência política à China. "Acho que China e Taiwan deveriam ter uma interação maior", disse em uma entrevista.
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O novo sistema de distribuição vai fornecer 30% da água consumida em Kinmen, para compensar o estresse no abastecimento causado pelo crescimento do turismo chinês, por fatores ambientais e pelas duas destilarias de licor de sorgo que fornecem a maior parte das receitas fiscais do condado.
A identidade pode ser uma questão complicada para as pessoas nascidas em Kinmen. A geração mais velha tende a se identificar mais como chinesa do que taiwanesa, enquanto as pessoas mais novas normalmente veem com cautela a influência crescente da China.
Conflito na ilha
A ilha, junto com as Kinmen Menores, foi esporadicamente bombardeada pela China desde os anos 1950 até o final da década de 1970. Acabou sendo fortemente militarizada e se isolou até mesmo de Taiwan até 1992, quando a lei marcial em Kinmen acabou e os residentes participaram de suas primeiras eleições locais.
O condado, ao contrário da ilha de Taiwan, não passou meio século como colônia japonesa; foi um território chinês durante a maior parte desse tempo. As diferenças gritantes em suas experiências, bem como a distância entre as ilhas, geraram um relacionamento um tanto estranho.
Os turistas taiwaneses que visitam Kinmen podem ficar intrigados ao ouvir um residente mencionar que "vai a Taiwan" para estudar e trabalhar, o que parece dizer que Kinmen não faz parte do país.
Muitos kinmenenses dizem que foram abandonados por Taipei, capital de Taiwan, desde a chegada da democracia. Chen, político independente e o primeiro magistrado eleito de Kinmen não membro dos Nacionalistas, ou Kuomintang, disse que nenhum dos presidentes eleitos de Taiwan haviam prestado atenção às necessidades do condado.
Após a desmilitarização, em 1992, ele disse: "Quase não tínhamos água, faltava-nos eletricidade e ruas; não tínhamos nada". Economicamente, afirmou, Kinmen teve que se virar sozinha desde então, basicamente dependendo das vendas do licor de sorgo e, mais recentemente, do turismo chinês. Os serviços da balsa para a China continental começaram em 2001.
Migração
A visão dos moradores da ilha sobre seu vizinho gigante foi se suavizando a partir de então. "Agora, na verdade, vejo o continente como sendo bastante democrático, pelo menos o que vi em Xiamen", disse Chen sobre a cidade chinesa em expansão nas proximidades. Quando lhe pediram que esclarecesse essa opinião, ele afirmou que quis dizer que os integrantes dos departamentos do governo com os quais havia se encontrado tinham sido "bastante receptivos".
À sombra da grandeza urbana de Xiamen, grande parte da população de Kinmen partiu, com os jovens optando por se mudar para Taiwan ou para a China. A maioria de suas aldeias tradicionais fotogênicas conta agora com apenas um terço de ocupação, com grande parte das velhas casas abandonadas.
Alguns jovens que ficaram dizem que o clima político mudou. Wang Ting-chi retornou a Kinmen após seis anos em Nova York e fundou uma empresa, a Local Methodology, para fornecer uma plataforma não governamental para a promoção da cultura de Kinmen. Ela disse se preocupar com a ideia de que os habitantes se veem "órfãos" por causa da distância da ilha principal de Taiwan, e que poderiam se sentir tentados a ceder à abertura de uma China cada vez mais poderosa.
Aqueles que expressam preocupações sobre a influência chinesa, disse Wang, são muitas vezes considerados ingênuos. "Acho que Kinmen vai começar a estabelecer relações com a China", concluiu.
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