A atual onda de violência no Iraque ameaça o patrimônio cultural do país, e sua destruição caracteriza um "crime de guerra", declarou ontem a diretora da Unesco, Irina Bokova. Ela fez um apelo para que as forças em campo não destruam prédios com valor histórico.
"Peço a todos que evitem qualquer forma de destruição do patrimônio cultural, em particular os locais religiosos", disse Bokova em um comunicado, referindo-se à ofensiva lançada na semana passada pelos jihadistas sunitas no Iraque. "Sua destruição intencional é um crime de guerra e um duro golpe contra a identidade e a História do povo iraquiano".
Os danos acontecem não apenas em combates, mas também com a pilhagem de artefatos arqueológicos contrabandeados para fora do país. Funcionários de inteligência calculam que o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) tenha obtido US$ 36 milhões vendendo artefatos roubados.
Em Paris, Irina Bokova pediu que todos os iraquianos protegessem o patrimônio cultural do país, destacando seu papel como "testemunho único da Humanidade, origem da nossa civilização e da convivência entre etnias e entre religiões".
Os jihadistas sunitas do EIIL, organização muito ativa na vizinha Síria, assumiu o controle da segunda maior cidade do país, Mossul, e de grande parte do Norte e do Leste, área de maioria xiita.
O Iraque possui vários locais sagrados xiitas em Najaf e Karbala, ao sul de Bagdá, e Samarra, ao norte da capital. E milhares de iranianos estão se alistando para defendê-los.
A crise aumentou as tensões entre as três principais comunidades do país árabes xiitas, árabes sunitas e curdos e ameaça lançar o Iraque em um conflito sectário.
O apelo de Irina Bokova ocorre dois dias após o início em Doha da reunião anual do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco.