Os países-membros da União Europeia concordaram ontem em embargar o petróleo do Irã, como parte de uma série de sanções contra o país por seu programa nuclear. As medidas incluem um embargo imediato a novos contratos para petróleo e petroquímicos.
Os contratos existentes poderão vigorar até 1.º de julho. O Irã prometeu uma resposta às sanções no dia 11 de fevereiro e ameaçou retaliar o embargo com o fechamento do Estreito de Ormuz, por onde passam de 20% a 40% do petróleo exportado por ano, segundo diversas estimativas. Além do embargo ao petróleo iraniano, chanceleres dos 27 países da UE concordaram em congelar os ativos do Banco Central do Irã nos países do bloco europeu.
A escalada da crise iraniana comporta vários riscos de aumento do preço do barril do petróleo, de crescimento da instabilidade financeira mundial e de uma potencial ação militar para manter a passagem de Ormuz aberta.
Uma fonte diplomática afirmou que as sanções pelos Estados-membros entram em vigor assim que publicadas no boletim oficial da UE, possivelmente hoje. Porém haverá uma regulação adicional relativa ao setor privado, incluindo traders e companhias do setor de petróleo. "A pressão das sanções é feita para tentar garantir que o Irã leve a sério nosso pedido para que venha à mesa de negociações a respeito do programa nuclear", afirmou a chefe da política externa da UE, Catherine Ashton.
Em outubro, Ashton enviou uma carta a Saeed Jalili, principal negociador nuclear do Irã, afirmando que seu objetivo era uma solução negociada "que restaure a confiança internacional na natureza exclusivamente pacífica do programa nuclear do Irã". Ela afirma não ter recebido resposta.
Negociadores da UE trabalham para garantir que o embargo puna apenas o Irã, e não países em dificuldades financeiras que dependem do petróleo barato iraniano como a Grécia.
Os negociadores concordaram em fazer uma revisão dos efeitos das sanções, que deve ser concluída até 1.º de maio, disse um diplomata pedindo anonimato.
Espanha, Grã-Bretanha e França elogiaram abertamente o embargo. O chanceler espanhol José Manuel García-Margallo disse que a Espanha comprará petróleo da Arábia Saudita.
"A Arábia Saudita e os outros países árabes do Golfo [Pérsico] nos garantiram que venderão o petróleo ao mesmo preço que pagávamos ao Irã", acredita. Atualmente, a Espanha importa 20% do petróleo que consome do Irã.
Estreito será fechado no caso de sanções, rebate parlamentar
O ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, William Hague, disse que o embargo ao petróleo iraniano faz parte de uma série "sem precedentes" de sanções ao regime iraniano por causa do programa nuclear. "Eu penso que isso mostra a resolução da Europa nesta questão", disse Hague.
O ministro das Finanças da Itália, Giulio Terzi, disse que o efeito do embargo ao petróleo iraniano será "quase nulo" sobre a economia italiana, uma vez que a Itália está diversificando suas compras de petróleo.
Mas a resposta inicial do Irã foi dura. Dois parlamentares iranianos ameaçaram fechar o Estreito de Ormuz. O parlamentar Mohammed Ismail Koswari, vice-líder do comitê de segurança nacional, disse que o Estreito "será fechado se a venda do petróleo iraniano for violada de qualquer maneira".
O Estreito de Ormuz, que tem 54 quilômetros de largura no seu ponto mais fechado, é a única passagem do Golfo Pérsico para o Mar da Arábia, no Oceano Índico. Por Ormuz passa não só petróleo do Irã, mas também do Iraque, do Kuwait, da Arábia Saudita, do Bahrein e dos Emirados Árabes Unidos.
Dúvida
Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha afirmaram que não aceitarão o fechamento da passagem marítima. Muitos analistas duvidam que o Irã, caso decida fechar o Estreito, consiga manter um bloqueio por muito tempo. Mas Koswari alertou que, no caso de um fechamento, os EUA e seus aliados devem se abster de qualquer "aventura militar".
Em Jerusalém, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, comemorou a decisão europeia. Netanyahu disse que o embargo europeu ao petróleo do Irã "é um passo na direção certa". Israel, os EUA e a UE acusam o Irã de desenvolver um programa nuclear com finalidades bélicas. O Irã nega.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que o embargo europeu ao petróleo iraniano é um "erro grave" que agravará as tensões.
"É manifesto que neste caso existe uma pressão aberta com o objetivo de punir o Irã por um comportamento não cooperativo. Essa é uma política profundamente equivocada, como já dissemos mais de uma vez aos nossos parceiros europeus", disse a chancelaria russa em comunicado.