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Londres – A aliança econômica de Chávez com o Irã é parte da atual política de desprezo aos EUA. Um grande outdoor com a foto de Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad disposto de forma quase monumental em uma rodovia da Venezuela marca a entrada de uma fábrica que produz basicamente três coisas: tratores, influência e ódio. Os tratores, dispostos de forma alinhada no terreno da Veniran, a joint venture entre Irã e Venezuela, são destinados aos agricultores e cooperativas socialistas espalhadas pela América Latina.

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A influência, não tão visível, mas real o suficiente, aumenta o poder de Chávez e do Ahmadinejad, dois presidentes que esperam que esta e outras joint ventures projetem seu prestígio e poder. O ódio, se tudo sair como combinado, recai inteiramente sobre Washington.

A Veniran pode estar isolada na longínqua Ciudad Bolívar, mas é parte de um plano mais amplo de formar uma frente comum contra os Estados Unidos. O socialista radical está usando as vastas riquezas de petróleo da Venezuela para formar acordos políticos e econômicos com países que desafiam os EUA, tais como o Irã, Bielo-Rússia, Rússia e China e também com grande parte da América Latina e Caribe, como uma afronta ao que ele chama de "império".

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"Chávez tem importância mundial agora, pois conta com muito dinheiro. Ele está preparado para gastá-lo em suas grandes ambições", disse Michael Shifter, um analista da Inter-American Dialogue. "Ele tem trabalhado incansavelmente para frustrar as prioridades dos EUA na América Latina". Os que o apóiam dizem que ele trabalha para auxiliar os pobres e marginalizados. Um exemplo seria o empréstimo de 250 mil dólares concedido aos agricultores das terras mais baixas da Bolívia para a montagem de uma fábrica de industrialização de coca. O crédito representa, de acordo com eles, como um esforço para transformar as folhas de coca em bolos, bolachas e outros produtos legalizados, em vez de cocaína. "Desejávamos fazer isso há anos, mas ninguém nos dava apoio", relata Leonardo Choque, líder da Federação dos Cultivadores de Coca. "Os venezuelanos vieram e nos deram este empréstimo com taxas de juros baixas, sem exigir garantias". A Venezuela também está criando uma nova universidade nas redondezas. Por outro lado, os EUA são acusados de ameaçar as nações andinas para destruírem as plantações de coca sem promover alternativas igualmente rentáveis para a população.

De todas as alianças de Hugo Chávez, a com o Irã é a mais marcante. A maioria dos 180 acordos políticos e econômicos assinados com os mulás nos últimos anos estão agora dando frutos – o que promove desconforto entre a pequena comunidade judaica. Os primeiros "veículos antiimperialistas" chegaram às ruas da Venezuela nesta semana, com o primeiro desfile marcado pelas Forças Armadas. Foi implementado um vôo semanal entre Caracas e Teerã, com escala em Damasco, operado pelas estatais Conviasa, na Venezuela, e Iran Air, no Irã. Novas mesquitas estão surgindo por todos os lugares da Venezuela e as universidades têm agora aulas de persa. O Irã prometeu ajudar na construção de plataformas do projeto de 4 bilhões de dólares nas jazidas de petróleo no delta do Orinoco, em troca de investimentos recíprocos.

Os mais de 4 mil tratores produzidos anualmente em Ciudad Bolívar são "café pequeno" se comparados a este projeto, mas tem valor simbólico para os agentes da mudança revolucionária. Muitos são dados ou alienados às cooperativas socialistas na Venezuela que se apropriaram, com as bênçãos do governo, de grandes fazendas e plantações de açúcar. Dezenas de pessoas também foram enviadas a Bolívia para dar apoio ao presidente Evo Morales, aliado de Chávez. Semana passada, várias outras pessoas foram enviadas à Nicarágua, país qual o presidente, Daniel Ortega, também é um grande aliado do presidente venezuelano contra o "bicho-papão" de Washington.

O primeiro lote da produção da fábrica teve lançamento previsto para coincidir com o 28.º aniversário da revolução sandinista. "A idéia foi ajudar nossos irmãos a desenvolver a terra", disse o iraniano Reza Mahboubi, um dos gerentes da fábrica. A tecnologia usada é iraniana, assim como os supervisores, mas a maioria do quadro de funcionários é venezuelana. Quando perguntado se a fábrica também tinha como objetivo ser um cisco no olho de George Bush, Mahboubi simplesmente sorriu.

Um colega de trabalho dele, que pediu para não ser nomeado, declarou que os iranianos receberam calorosas boas-vindas. "Eu adoro este lugar. É quente e ensolarado e eles comem arroz, igualzinho na minha casa. Exceto que aqui eu saio para dançar salsa."

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Chávez inaugurou a fábrica em 2005 com o presidente do Irã, Mohammad Khatami. O presidente da Venezuela firmou uma forte amizade com o sucessor da presidência do Irã, Ahmadinejad, e ambos formaram o "eixo da união". "Os motivos são totalmente geopolíticos, não econômicos", disse o analista Shifter. "Este eixo mostra ao mundo que o Irã, odiado internacionalmente, foi recebido de braços abertos na América Latina, que é notoriamente considerada como o ‘quintal’ dos EUA."

Com a aliança, Chávez perdeu um pouco de prestígio. A Europa seria mais amigável se ele não se aliasse com o islâmico contraditor do Holocausto, disse o Conselho dos Assuntos Hemisféricos. Isto também pode explicar o motivo da sua baixa popularidade nas pesquisas sobre atitudes mundiais realizada pela Pew Foundation. Entretanto, o líder venezuelano calculou que vai ganhar mais que perder. "Quando eu vou ao Irã, Washington fica chateada", disse ele em uma visita no início deste mês, a sexta que realiza ao país. Ele entrelaçou a revolução islâmica do Irã com sua própria revolução secular, uma mistura das idéias de Simon Bolívar, libertador sul-americano do século 19.

Rory Carroll e Sibylla Brodzinsky, do The Guardian.Tradução: Thiago Ferreira.