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A cidade de Erfurt, que viu seus moradores "fugirem" para o lado ocidental da Alemanha após a unificação e agora voltou a crescer | Creative Commons
A cidade de Erfurt, que viu seus moradores "fugirem" para o lado ocidental da Alemanha após a unificação e agora voltou a crescer| Foto: Creative Commons

Erfurt, Alemanha - O ar de muitas cidades da extinta Alemanha comunista costumava cheirar ao carvão de baixa qualidade que as pessoas usavam para o aquecimento. Isso é algo fácil de esquecer, depois que Ocidente e Oriente se reunificaram e mais de US$1 trilhão foi gasto para sustentar e reconstruir a dilapidada região que foi a República Democrática da Ale­­manha Oriental.

No dia em que o ar ficou limpo, quando o doce odor das florestas ao redor literalmente atravessou a barreira, é o dia de que Birgit Kummer se lembra como o início de sua nova vida numa Alemanha unida e democrática, uma nação que lhe ofereceu oportunidades que ela nunca havia sonhado sob o comunismo.

"Você mal podia respirar", disse Kummer, antiga residente da cidade de Erfurt, rica em história, onde Martin Luther estudou, Napoleão conheceu o Czar Ale­­xandre e onde ocorreu o primeiro pequeno passo em direção à unificação – quando líderes orientais e ocidentais se reuniram em 1970. "Para mim, foi um sinal de que tudo ficaria melhor, quando o ar estava limpo".

No ano em que a Alemanha comemorou seu 20.º aniversário da unificação, um acalorado de­­bate sobre o processo, com grande ênfase nas decepções e desvantagens, ganhou todas as fronteiras do país.

Uma autoridade de um ex-estado da Alemanha Oriental diz que o que ocorreu não foi uma reunificação, mas uma anschluss, ou anexação, palavra que remete à invasão nazista na Áustria antes da Segunda Guerra Mundial.

A discussão focou basicamente em disparidades financeiras: os salários no oriente continuam sendo 80% dos salários do ocidente; a taxa de desemprego no oriente é de quase 12%, quase o dobro do ocidente; a renda média de uma família da Alemanha Ori­­ental é cerca de 40% menor do que na Alemanha Ocidental. E, obviamente, aqueles no ocidente reclamam dos US$ 1,7 trilhões gastos – até agora – para re­­cons­­truir e apoiar o lado oriental.

"Para os alemães orientais, o processo de reunificação foi, até certo ponto, um desapontamento", afirma Hans Otto Braeutigam, que serviu como representante permanente da Alemanha Oci­­dental frente ao lado oriental antigamente controlado pelos comunistas. "Eles esperavam ser como os alemães ocidentais rapidamente. É por isso que as pessoas não estão comemorando a reunificação."

Porém, a principal discussão é um sintoma tanto de uma sociedade que gosta de dar sua opinião sobre quase todos os assuntos, quanto dos verdadeiros problemas de um processo que o povo local nem mesmo chama de reunificação. Eles o chamam de "die Wende" – "a virada", ou "a mu­­dança".

No estado central de Turíngia, as coisas finalmente estão melhorando. O total da população está voltando a crescer acima dos 200 mil em Erfurt, a capital, depois que o êxodo para o lado ocidental derrubou o número de 225 mil para 195 mil. Os empregos estão reaparecendo, e em Erfurt, nos arredores de Weimar, conhecida por sua herança cultural e pela proximidade com o campo de concentração de Buchenwald, aposentados do ocidente estão le­­vando suas pensões e gastos para novos lares no oriente.

Mesmo assim, ninguém aqui está camuflando a decepção, a sensação – mesmo hoje, duas décadas depois – de ser tratado como imigrante em seu próprio país, da percepção profundamente ofensiva de que seus valores – criados num estado socialista – foram apagados e deslegitimados. Ninguém esquece que alguns dos ex-estados estão lutando financeiramente e continuam perdendo população, e que 30% dos empregos no oriente desapareceram com a reunificação.

"Existe uma identidade alemã oriental, sim, mas isso deve ser assim", disse Katrin Fromm, de 44 anos e amiga de Kummer, enfermeira cirúrgica em Erfurt. "Aquilo era minha vida, você não pode dizer que o oriente acabou".

Quando o muro veio abaixo, Kummer, de 52 anos, e Fromm permaneceram em Erfurt, en­­quanto muitos de seus amigos e familiares iam embora. As duas eram mães solteiras, parte da geração intermediária. Os jovens podiam construir novas vidas e os idosos recebiam pensões decentes. Os intermediários tinham sido privados do estado comunista, e repentinamente tinham de prosperar num sistema inteiramente novo.

"Sim, era uma ditadura, um estado de injustiças, sem liberdade, mas havia 17 milhões de vidas diferentes", afirmou Kummer, que logrou uma bem-sucedida carreira como repórter do jornal Thuringer Allgemeine. "Para muitos, era uma vida boa. Isso não pode ser simplesmente es­­quecido".

Ele não mostrou amargura enquanto guiava um visitante pelas ruas de pedras em sua cidade incrivelmente bem preservada, com suas altivas torres de igrejas e edifícios medievais cuidadosamente administrados. Na verdade, eles reconhecem que sua cidade representa a renovação não só de uma região anteriormente descrita como cinza, mas também de vidas que foram transformadas em cinzas.

"Penso nisso como um milagre", diz Kummer no meio de uma praça, chamada Wenigemarkt, com suas cafeterias, uma fonte, e casas em tons pastéis.

O milagre não foi apenas na cena ao seu redor, mas também no aceno de um homem bem vestido sentado numa cafeteria, sob um guarda-chuva. Ele é um velho amigo, Arnd Vogel, e antigamente ele era um mecânico – pois isso era o que o Partido Comunista lhe disse para ser.

"Agora ele é proprietário de três revendedoras de carros, grandes lojas", disse Kummer, depois de trocar um abraço com seu amigo. "Antes, havia apenas dois fa­­bricantes de carros, e pertencentes ao estado. Você tinha de pedir um carro e esperar por 15 anos".

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