Colombianos participam do velório do governador Francisco Cuéllar: crime reacende clima de guerra no país| Foto: Guillermo Legaria/AFP

Guerrilha

Farc são criticadas e perdem prestígio internacional

Reuters

O assassinato do governador colombiano Luis Francisco Cuéllar provocou ontem uma ampla condenação internacional e expôs falhas nas políticas de segurança. A Organização das Nações Unidas (ONU), a Anistia Internacional, a União Europeia e a Human Rights Watch condenaram o crime. Caso seja provado a autoria das Farc, a imagem da guerrilha perante a comunidade internacional deve piorar.

"Para o direito internacional humanitário, a tomada de reféns constitui crime de guerra, e a morte subsequente do governador confere extrema gravidade à prática recorrente desse crime por parte de dito grupo guerrilheiro", disse o escritório da ONU para Direitos Humanos na Colômbia.

"Reiteramos a exigência às Farc para que seus integrantes liberem de imediato e sem condições todas as pessoas que mantêm em seu poder. Também conclamamos seus líderes a se comprometerem para que todos os seus membros respeitem as normas do direito internacional humanitário", acrescentou a nota.

As Forças Armadas da Colômbia dizem que, com esse crime, as Farc buscavam protagonismo político com vistas à eleição geral de 2010, além de pressionar o governo por um acordo para a troca de 24 reféns por centenas de rebeldes presos.

O assassinato de Cuéllar, no dia do seu aniversário, deixou em segundo plano a expectativa pela libertação de dois militares e da entrega do cadáver de um policial morto em cativeiro, que está em negociação com as Farc.

"O objetivo das Farc seria justamente refutar a versão do governo de que o grupo estaria morto graças ao programa de Segurança Democrática de Uribe", disse Carlos Medina, cientista político da Universidade Nacional da Colômbia.

Os últimos dois anos foram marcados por grandes derrotas para as Farc. Em março de 2008, o porta-voz do grupo, Raúl Reyes, foi morto em um ataque contra seu acampamento no Equador. Dois meses depois, o número 1 da guerrilha, Manuel Marulanda (ou Tirofijo), morreu de causas naturais.

Em julho do mesmo ano, uma operação militar do Exército conseguiu libertar 15 reféns da guerrilha, entre eles a ex-candidata à Presidência Ingrid Betancourt e três americanos.

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O presidente colombiano, Álvaro Uribe, prometeu ontem perseguir os responsáveis pela morte do governador de Ca­­quetá, Luis Francisco Cuéllar, atribuída às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) pelo governo de Bogotá.

"Demos instruções para que a operação militar adotada para resgatar o governador se mantenha para capturar os responsáveis por seu assassinato", disse Uribe.

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Segundo o presidente, os US$ 500 mil oferecidos por informações sobre o paradeiro de Cuéllar agora serão entregues a quem ajudar a capturar seus assassinos – que pertenceriam ao comando Teófilo Forero das Farc e teriam codinomes como "Huevo", "Va­­lencia" e "Guevara". "Avan­­ça­­re­mos com perseverança na derrota do terrorismo para livrar desse pe­­sadelo as novas gerações de colombianos", disse Uribe.

Na noite de segunda-feira, dez homens armados invadiram com a ajuda de explosivos a casa de Cuéllar e o levaram em uma caminhonete. O veículo foi en­­contrado queimado numa zona rural de Florencia, capital de Caquetá, e, horas mais tarde, seu corpo apareceu, com ferimentos e cercado de explosivos.

Segundo autoridades colombianas, o que matou o governador foi um corte no pescoço, provocado por um machado. "Não dispararam contra ele, mas o degolaram para evitar barulho, porque já intuíam a operação das nossas Forças Armadas (na área)." A família do governador acredita que ele foi executado por ter se recusado a caminhar na selva (Cuéllar tinha problema num dos joelhos).

Eleição

O sequestro seguido de morte do governador na Colômbia marca a tentativa da guerrilha de mostrar força após importantes derrotas e, com isso, influir no debate pré-eleitoral no país. A avaliação é de analistas, que dizem que a ação pode ser um tiro pela culatra, por fortalecer a política de linha-dura contra as guerrilhas responsáveis por grande parte da aprovação de 80% a Uribe. O presidente colombiano ambiciona, mediante reforma constitucional, concorrer ao terceiro mandato em maio de 2010.

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Carlos Velásquez, que dá aulas sobre o conflito armado na Universidade de La Sabana, diz que a radicalização das Farc beneficia Uribe num momento de disputa eleitoral, por justificar sua posição intransigente, mas é prejudicial no médio prazo "por colocar o país em um beco sem saída".