Pela primeira vez em sua história, a Colômbia deve ter hoje seu presidente reeleito consecutivamente, em um cenário eleitoral bastante apático. Espera-se mais de 50% de abstenção entre os 26 milhões de eleitores. O presidente Álvaro Uribe mantém sua popularidade em alta, na casa dos 70%, mas esteve distante dos debates durante toda a campanha eleitoral, criticam os analistas políticos.
"A ausência de Uribe nos debates da tevê deixou a população sem acesso a sua plataforma de governo para o segundo mandato. É a estratégia da ignorância intencional", diz Carlos Martinez Becerra, especialista em Economia Internacional da Universidad Nacional de Colombia. O candidato Carlos Gaviria fez uma campanha mais aberta, de grandes comícios, enquanto Uribe se negou a participar de debates, comenta.
Becerra acredita que Uribe terá menos votos que no último pleito (5,8 milhões, 53% dos votos válidos de 2002), mas garantirá seu segundo mandato. "Caso houvesse segundo turno, o que será difícil, Gaviria teria chances de reverter o cenário."
Mesmo diante da onda de violência da última semana, é difícil que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) consigam reverter o cenário eleitoral, diz Sabrina Evangelista, cientista do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "O ambiente está passível de influência norte-americana e a esquerda está fragilizada." Bogotá anunciou que 200 mil soldados estariam hoje nas ruas.
Uribe tem sido a exceção na América Latina ao exercer uma plataforma direitista, diante da ascensão de governo nacionalistas como os de Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia). A aprovação do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos tende a fragilizar a Comunidade Andina de Nações (CAN) e abrir brechas para atritos diplomáticos e de fronteira com os vizinhos, diz Sabrina. "Chávez, por exemplo, contesta a fronteira da Colômbia."
Becerra lembra que a Colômbia não consultou os membros da CAN sobre o TLC. "A CAN deveria ser prioridade para a Colômbia, uma vez que o país exporta 85% de seus produtos para o bloco. Não se está sendo solidário com os vizinhos."
Sabrina considera que os Gaviria e Horacio Serpa não representam ameaça para Uribe neste momento. A alta popularidade de Uribe se deve ao fato de que as Farc não agradam mais os colombianos como nos anos 70, avalia. "O movimento perdeu o brilho indígena e virou sinônimo de violência, com grande rejeição da opinião pública."
Becerra credita a popularidade de Uribe ao apoio que tem dos empresários e das camadas mais pobres. "Com o desemprego em alta, muitos empresários pedem para que seus funcionários votem em Uribe."
A expectativa de 50% de abstenção de votos preocupa, comenta Jaime de Almeida, professor de História da América da Universidade de Brasília (UnB). "A legitimidade de quem for eleito fica precária." O mesmo problema enfraqueceu Uribe diante das Farc durante seu primeiro mandato.
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