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Lacalle Pou

Uruguai volta a ter um governo de centro-direita: o que isso significa para eles e para o Brasil

Direita volta ao poder no Uruguai com Lacalle Pou
Luis Lacalle Pou, o novo presidente do Uruguai, (Foto: Pura Branca/Wikimedia Commons)

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O presidente eleito do Uruguai, Luis Lacalle Pou, toma posse neste domingo (1.º). Além de se tornar, aos 46 anos, o governante mais jovem da história uruguaia, Lacalle Pou representa uma guinada à centro-direita na política do país após 15 anos de governos de esquerda. E isso indica um possível estreitamento de relações com o Brasil.

O presidente Jair Bolsonaro estará presente na cerimônia de posse. Economicamente o Brasil é muito mais importante para o Uruguai do que vice-versa. O segundo destino das exportações uruguaias é o Brasil, representando 15% do volume total, 1,32 bilhões de dólares. Mas a balança comercial é favorável à economia brasileira, que exporta 2,45 bilhões de dólares ao Uruguai – o que representa apenas 1,1% do volume total de exportações do Brasil.

Mas a chegada de Lacalle Pou é importante por um alinhamento político-ideológico com o Brasil – o maior dos quatro países do Mercosul. Por isso Bolsonaro fez questão de ser o primeiro chefe de Estado a parabenizar Lacalle Pou pela vitória nas eleições; e o novo presidente uruguaio retribuiu o gesto sinalizando que quer visitar o Brasil ainda no primeiro semestre de 2020. Antes mesmo da posse, o futuro chanceler uruguaio, Ernesto Talvi, já teve uma reunião com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, em Brasília.

“A relação [do Uruguai] com o Brasil é importante e vai melhorar com Bolsonaro e Lacalle Pou. Apesar de que Lacalle Pou já deu sinais de que não é um político populista e que não tem o estilo de Bolsonaro ou de [Donald] Trump. Acho que a principal sintonia será com a política econômica de Paulo Guedes”, explica o jornalista uruguaio Nicolás Lussich, especializado em economia.

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Relação de Lacalle Pou com o governo de esquerda da Argentina ainda é incerta

Se o futuro governo do Uruguai dá sinais de aproximação com o Brasil, existem incertezas sobre o futuro da relação bilateral com a Argentina – o segundo maior país do Mercosul. Lacalle Pou já foi chamado de "Macri uruguaio" – numa alusão ao ex-presidente de direita da Argentina Mauricio Macri. E o atual presidente argentino, o esquerdista Alberto Fernández, não estará presente na cerimônia de posse.

Para evitar qualquer mal-estar, Fernández ligou para Lacalle Pou para se desculpar pela ausência, explicar os motivos e prometer que em breve viajará para Montevidéu. Neste domingo (1.º), Alberto Fernández irá comandar a cerimônia de abertura das sessões legislativas do Congresso argentino, algo previsto na Constituição do país. E Lacalle Pou esteve no dia 10 de dezembro em Buenos Aires, acompanhado pelo atual presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, na cerimônia de posse de Alberto Fernández.

Para Nicolás Lussich, a ausência não significa um gesto contra o novo governo uruguaio. “Acho que isso expressa um pouco sobre a tensão do atual governo argentino. Mas acho que o Fernandez é um politico com capacidade de desenvolver uma relação fluida e que não seja trancada por questões ideológicas. Então acho que haverá um entendimento, talvez não com a mesma dinâmica de governos anteriores que tinham objetivos comuns, mas com uma ida e volta razoável.”

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Os desafios do novo presidente: economia desacelerando e criminalidade

Boas relações com os principais parceiros do Mercosul são fundamentais para os uruguaios. A crise econômica brasileira teve reflexos no Uruguai – que vem registrando uma desaceleração do crescimento do PIB, apesar de os números serem positivos desde 2003. O desemprego chegou a 9,8% da população economicamente ativa em agosto do ano passado, o índice mais alto registrado nos últimos 12 anos, embora os salários estejam no nível mais alto da história.

Um dos entraves para o futuro da economia uruguaia é a baixa população do país. O território do Uruguai (176 mil km²) é praticamente do mesmo tamanho que o do Paraná (199 mil km²). Mas a população é 70% menor, são 3,3 milhões de pessoas vivendo no país vizinho, enquanto há 11,3 milhões de pessoas morando no Paraná. Como o consumo interno é pequeno, a abertura econômica proposta pelo Mercosul é vista como fundamental para a economia. “A grande incógnita é o Mercosul, se vai ou não abrir o comércio e o acordo com a Europa, que é um dos pontos-chave [para o Uruguai]”, afirma o jornalista econômico Nicolás Lussich.

Além da economia, a expectativa no Uruguai em torno do governo de Lacalle Pou é que ele combata a criminalidade crescente. “Alguns fatores foram fundamentais para a troca de governo. Em questões sociais, o aumento da criminalidade e do desemprego, afirma Nicolás Lussich. Houve também um esgotamento da agenda da Frente Ampla [o grupo político de esquerda que governou o Uruguai por 15 anos]. "Nos primeiros mandatos houve uma reforma do Imposto de Renda e a implementação de um novo sistema de saúde.  Já nesses últimos 5 anos não houve nada muito emblemático, o que mostra um esgotamento da agenda.”

Lacalle Pou é filho de ex-presidente do Uruguai

Luis Lacalle Pou é filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle, que comandou o Uruguai entre 1990 e 1995. Filiado ao Partido Nacional, Lacalle Pou fez uma grande coalizão com outros partidos de centro e de direita para derrota a Frente Ampla – grupo político de esquerda que estava no poder desde 2005. Foram dois mandatos de Tabaré Vázquez e um de José Mujica.

Bolsonaro no Uruguai: a agenda e a reação da esquerda do país

O presidente Jair Bolsonaro e a comitiva do governo brasileiro vão chegar a Montevidéu por volta das 12h30 deste domingo (1.º). Bolsonaro ficará no país vizinho por cerca de 9 horas. Além de participar da cerimônia de posse e dos cumprimentos protocolares, deve participar de um jantar na casa do embaixador do Brasil no Uruguai.

Além de Jair Bolsonaro, a comitiva brasileira também contará com a presença do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; do ministro do Gabinete da Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno; do senador Luis Carlos Heinze (PP-RS); do deputado federal Celso Russomanno (Republicanos-SP); e da presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministra Cristina Peduzzi.

Durante os últimos dias, foram registradas algumas manifestações em redes sociais contra a presença de Bolsonaro em Montevidéu. A Convenção Nacional dos Trabalhadores chegou a publicar uma mensagem de “repúdio público” contra Jair Bolsonaro, Jeanine Áñez (atual presidente interina da Bolívia) e Luis Almagro (uruguaio que exerce o cargo de Secretário Geral da Organização dos Estados Americanos).

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