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O Uruguai conseguiu controlar bem a pandemia de Covid-19 durante o ano passado, apelando à liberdade responsável das pessoas e seguindo a política de não imposição de confinamento. De março a 31 de dezembro de 2020, 181 pessoas morreram por causa da doença no país, o que na época representava uma taxa acumulada de 50 mortes por milhão, a mais baixa entre as democracias da América do Sul.
Mas desde janeiro deste ano os números da pandemia começaram a aumentar no Uruguai. Houve uma explosão de casos de Covid, especialmente a partir de março, que agora coloca a pequena nação sul-americana de três milhões de habitantes como o país com maior a taxa de novas infecções por coronavírus do mundo: no início desta semana eram 1,13 mil novos casos por dia a cada milhão de habitantes, segundo levantamento da plataforma Our World in Data, com base na média dos sete dias anteriores. Para efeito de comparação, nos dois países vizinhos, Argentina e Brasil, essa taxa era de 487 e 322 por milhão, na mesma data.
Em números absolutos, o Uruguai está registrando mais de dois mil casos de Covid-19 por dia desde o fim de março. Chegou perto dos quatro mil na semana passada, mas no começo desta semana o número caiu para cerca de 2500 diagnósticos positivos por dia. O total de casos ativos, segundo dados de monitoramento do governo uruguaio, é de 31.055. No começo do ano eram apenas 5.570.
Esse avanço da pandemia fez com que o governo uruguaio impusesse algumas restrições de circulação, como fechamento de escolas, escritórios públicos e academias. O confinamento, porém, não está sendo cogitado pelo governo nacional, embora algumas regiões tenham adotado medidas um pouco mais restritivas do que as recomendadas por Montevidéu. Existe pressão de grupos políticos para que o presidente Luis Lacalle Pou imponha medidas mais duras para tentar diminuir a propagação do novo coronavírus, mas neste momento nada indica que o governo seguirá nessa direção.
Para evitar um colapso dos hospitais, mais leitos de UTI estão sendo abertos no país. Dos cerca de mil leitos de cuidados intensivos em operação no Uruguai, nesta quarta-feira, 727 estavam ocupados, 53,8% destes por pacientes com Covid-19, segundo a Sociedade Uruguaia de Medicina Intensiva (Sumi).
Mortes por Covid
Este mesmo relatório da Sumi indica que a liberação dos leitos ocorre mais devido a mortes do que a altas hospitalares. O número de óbitos diários por Covid-19 no país também chama a atenção do mundo ao colocar o Uruguai entre os países com as maiores taxas de mortes pela doença, atrás apenas da Hungria, Bósnia e Bulgária. Segundo o Our World in Data, nesta quarta-feira o país registrava cerca de 17 mortes diárias por milhão de habitantes. No Brasil, o índice estava em 14 na mesma data. Mas se considerado o acumulado de mortes por milhão de habitantes, desde o começo da pandemia, o Uruguai registra 474 óbitos por milhão de habitante, uma das menores taxas da região.
Em número absolutos, o Uruguai registrou uma média de 60 mortes por dia, considerando a média móvel de quarta-feira (14). O boletim do governo indicava que, nesse dia, 52 pacientes com Covid morreram. Mais de 1,6 mil pessoas faleceram desde o começo da pandemia no Uruguai.
Vacinação
Assim como no Chile, o pico da pandemia de Covid-19 no Uruguai está ocorrendo no mesmo momento em que o país impulsiona a campanha de vacinação. Nesta quarta-feira, o Uruguai era o país com mais de um milhão de habitantes que, proporcionalmente, estava aplicando mais doses de vacina anti-Covid por dia em todo o mundo, segundo o Our World In Data: 1,3 dose por dia a cada 100 habitantes.
Ao menos 27% dos uruguaios receberam a primeira dose e 6,4% estão totalmente vacinados, o que coloca o país como segundo que mais vacinou na América do Sul (em números relativos à população), ficando atrás apenas do Chile.
Como explicar o aumento de casos?
O número de pessoas completamente imunizadas, porém, ainda está longe de proporcionar ao país a chamada imunidade de rebanho. Por isso, não é contraditório o fato de que o pior momento da pandemia no Uruguai tenha ocorrido durante o começo da vacinação.
Dois fatores podem ser apontados como possíveis causas desta explosão de casos no país. Primeiro, o relaxamento dos hábitos de cuidados pessoais, como o distanciamento social, uso de máscaras e não aglomeração – o que pode ter ocorrido devido à temporada de férias de verão (os casos estão em ascensão desde janeiro) e ao cansaço da população. Segundo, a presença da variante P.1 do coronavírus, também conhecida como variante brasileira, que, segundo estudos, é duas vezes mais contagiosa.
De acordo com Miguel Asqueta, diretor geral de Saúde do governo uruguaio, a cepa já representa 90% das amostras analisadas em Rio Negro e 80% em Rivera. Em outros departamentos, como Montevidéu, Colônia e Soriano, ela está presente em 60% das amostras.
“Lamentavelmente, está muito difundida no país”, disse nesta quarta-feira em entrevista ao Telenoche.
Vários países onde a P.1 foi detectada, como no Brasil, no Chile, Colômbia e Argentina, registraram aumento de casos de Covid-19. A propagação da cepa também está sendo apontada como um dos motivos pelo recente aumento de casos de Covid-19 nos Estados Unidos.