Após uma breve pausa para o diálogo, a violência retornou à Nicarágua nos últimos dias, com a polícia e milícias governamentais entrando em confronto com manifestantes. Negócios foram saqueados e queimados. Os distúrbios nesta semana intensificaram uma crise que atingiu a Nicarágua em abril. Manifestantes pedem a renúncia do presidente Daniel Ortega, um ex-guerrilheiro marxista que está em seu terceiro mandato. Ele, em conjunto com a sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, detém poder total sobre o país.
Grupos de direitos humanos dizem que cerca de 100 pessoas foram mortas desde que os distúrbios começaram. O governo de Ortega atribui a violência a agitadores da direita.
Agitação e mortes
Uma marcha por Manágua – a capital do país – na quarta, liderada por mães de mortos durante os protestos, terminou com homens armados atirando contra a multidão. Testemunhas acusaram a polícia e seus aliados civis de iniciar a violência, que deixou 18 mortos e 200 feridos.
Saques, incêndios provocados e confrontos tem se espalhado por diferentes partes da Nicarágua após uma tentativa de diálogo entre governo, estudantes, empresários e a Igreja Católica ter fracassado.
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“Todos os dias mais gente está sendo morta”, diz Gonzalo Carrion, advogado do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos, a respeito das forças governamentais. “Elas estão gerando o terror.”
Durante o primeiro surto de violência, em meados de abril, que ocorreu devido a possíveis mudanças no sistema previdenciário, a polícia atirou, lançou gás lacrimogênio e usou balas de borracha contra multidões, deteve e espancou estudantes universitários em diferentes partes do país. Os protestos fora do comum fizeram com que o governo partisse para a negociação, mediada pela Igreja Católica.
Negociações suspensas
Mas, na semana passada, o cardeal Leopoldo Brenes anunciou que as conversações foram suspensas indefinidamente devido à falta de avanços. A oposição pede a antecipação das eleições, que estão marcadas peara 2021, e quer proibir a participação de Ortega nelas. Seu ministro de Relações Exteriores chegou a propor um golpe.
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Desde então, manifestantes bloquearam rodovias em todo o país. Estudantes, na segunda passada, ocuparam a Universidade Nacional de Engenharia, em Managua e incendiaram a Rádio Ya, uma emissora pró-governo.
A vice-presidente Murillo negou a existência de grupos paramilitares aliados ao governo. Ela atribuiu a violência a uma conspiração criminosa que, por meio da intimidação, medo, ameaças e terror, tenta entregar o país a bandidos e ao crime organizado.
Uso excessivo da força
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos apontou, no mês passado e após investigações preliminares, que as manifestações tem se caracterizado pelo “uso excessivo da força por parte de forças de segurança do Estado.” Até o dia 21, a comissão tinha computado 76 mortes e 868 feridos, a “ampla maioria nos protestos.”
A Anistia Internacional disse, por meio de comunicados, que a violência durante a marcha liderada por mães de vítimas “demonstra a política sistemática do governo do presidente Ortega de atirar para matar.”
Na quinta, moradores de Manágua ouviram tiros e barulhos provocados por lança-morteiros caseiros e viram homens armados pelas ruas da capital. “Era uma situação fora do controle”, disse Maurício Targa, um empresário que está ajudando a organizar protestos.
Tiroteios. Pessoas mascaradas na parte de trás de carros sem placas, armadas, puxam as pessoas e as roubam. Estão tentando criar o pânico.
Na quinta, a Organização dos Estados Americanos (OEA) enfatizou, em comunicado, a necessidade de que Roberto Rivas, responsável pelo sistema eleitoral nicaraguense, renunciasse. Ele está neste cargo há mais de uma década e tem sido duramente criticado por ajudar a Ortega se manter no poder. No ano passado, os EUA estabeleceram sanções contra Rivas, impedindo-o de utilizar o sistema financeiro americano.
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