A atividade incomum em um reator de energia nuclear na China chamou a atenção internacional, após duas empresas francesas admitirem problemas, mas assegurarem que eles serão tratados com segurança. Inaugurada há dois anos, a Usina Nuclear de Taishan, na Província de Guangdong, está sob vigilância por um problema no circuito de um de seus reatores do tipo EPR, construído em parceria com a EDF, principal concessionária de energia da França.
Em comunicado, a empresa, coproprietária da usina, disse que certos gases nobres se acumularam na água e no vapor ao redor das barras de combustível de urânio, no coração do reator. No entanto, a direção garante ter procedimentos para lidar com esse acúmulo de gases, descrito como um "fenômeno conhecido".
Framatome, uma afiliada da EDF e construtora dos reatores, disse que houve um problema de desempenho, mas a instalação estava operando dentro de seus parâmetros de segurança. Na China, a usina garantiu, na noite de domingo (13), que nenhum vazamento no meio ambiente foi detectado. No entanto, a TV americana CNN disse ontem que a Framatome havia procurado ajuda dos EUA, citando uma "ameaça radiológica iminente" na central nuclear de Taishan.
A emissão dos chamados gases nobres - xenônio ou argônio, que são gerados durante a fissão nuclear -, detectada no circuito primário do reator, seria causada por uma degradação do revestimento de alguns elementos físseis, explicou a EDF, sem especificar quantos desses elementos foram afetados.
Um reator do tipo EPR contém 241 conjuntos físseis, cada um consistindo de 265 hastes. "O circuito é projetado para que (os gases) sejam coletados e tratados", disse a empresa. "A presença de determinados gases nobres no circuito primário é um fenômeno conhecido, estudado e previsto pelos procedimentos operacionais dos reatores."
"Deve haver bainhas metálicas (das hastes) vazando, deixando passar gases nobres que contaminam o fluido primário", declarou a vice-diretora-geral do Instituto Francês para Proteção contra Radiação e Segurança Nuclear, Karine Herviou, à agência France Presse. "Dito isso, a contaminação do fluido primário não significa liberação para o meio ambiente", ressaltou, explicando que há duas barreiras de contenção. "Não sabemos os valores, a concentração, não sabemos a extensão do fenômeno. Não há grande preocupação, por enquanto, levando em conta o que sabemos."
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com sede em Viena, declarou que, nesta fase, não há nenhuma indicação de que tenha ocorrido um incidente radiológico.
Os dois reatores de Taishan são até agora os únicos EPRs em serviço no mundo. Outros desses reatores de terceira geração estão em construção na Finlândia, na França e no Reino Unido. A China tem cerca de 50 reatores em operação e é o terceiro país com mais reatores, atrás de EUA e França.
Segundo a CNN, a Framatome teria entrado em contato com os EUA para solicitar autorização de assistência técnica para resolver uma ameaça radiológica iminente. Não se sabe por que o aval americano é necessário para intervir. Ainda de acordo com a TV, as autoridades de segurança chinesas também aumentaram os limites aceitáveis de radiação fora do local para evitar o desligamento da usina.
Já a operadora da central, China General Nuclear Power Group - estatal proprietária de 70% da planta de Taishan -, divulgou um comunicado assegurando que os indicadores ambientais da usina estavam normais.