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Pandemia

Vacinação de idosos na Argentina é lenta e preocupa especialistas

vacinação argentina
Agente de saúde aplica dose da vacina desenvolvida pela Sinopharm, no centro de exposições La Rural, em Buenos Aires, em 5 de março de 2021 (Foto: Ronaldo SCHEMIDT/AFP)

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A Argentina foi o segundo país da América do Sul, depois do Chile, a dar o pontapé inicial em sua campanha de vacinação contra Covid-19, no fim de 2020. Mas o entusiasmo de ser um dos primeiros da região logo se transformou em frustração para muitos argentinos, que, ao contrário dos chilenos, não viram a imunização deslanchar em seu país. A frustração pela lentidão foi agravada pelo escândalo da “Vacinação VIP”, em que funcionários da administração do presidente Alberto Fernández – inclusive o agora ex-ministro da Saúde Ginés González García – e seus familiares estavam "furando a fila" dos grupos prioritários para imunização.

Mesmo depois de 11 semanas de campanha de vacinação contra a Covid-19, a Argentina ainda não engrenou o ritmo para proteger a população de risco, especialmente os maiores de 60 anos. O que está acontecendo?

Como está a vacinação na Argentina

Até a manhã de quinta-feira (11), segundo o Monitor Público de Vacinação, foram aplicadas 1,9 milhão de doses de vacinas em todo o país, dentre as 3,4 milhões que já foram distribuídas entre as províncias. Ao menos 1,5 milhão de argentinos receberam ao menos a primeira dose. E destes, 354,5 mil estão completamente imunizados, tendo recebido também a segunda dose. Colocando esses números em proporção, significa que 3,93 doses foram aplicadas a cada 100 pessoas. Ou que 3,1% da população recebeu pelo menos a primeira dose da vacina.

Uma média dos últimos sete dias mostra que 84 mil aplicações estão sendo feitas diariamente, segundo o site de monitoramento Our World in Data. Até meados de fevereiro a vacinação patinou na Argentina, com menos de 20 mil imunizações por dia em todo o país. Foi só a partir da última semana daquele mês que o Ministério da Saúde conseguiu acelerar a campanha. Os dados mais recentes, de quarta-feira, mostram que agora, proporcionalmente, a Argentina chegou a um ritmo de vacinação diária semelhante ao do Brasil – embora haja um percentual maior de brasileiros que já foram vacinados com pelo menos uma dose: 4,1% da população, segundo o Our World in Data.

Escassez de vacinas

O maior problema por essa lentidão na vacinação na Argentina é, assim como nos demais países, a escassez do produto. O país, até agora, recebeu apenas 4 milhões de doses da Sputnik V, Covishield (vacinas da AstraZeneca produzidas pelo Serum Institute of India) e Sinopharm.

“Faltam mais vacinas. Embora haja cada vez mais postos de vacinação e a intensidade da vacinação provavelmente tenha aumentado, estaremos sempre atrás. A ideia é vacinar a todos no menor tempo possível e isso é algo que vemos ser difícil em todo o mundo. Mais vacinas precisam chegar”, disse ao site argentino Infobae Guillermo Docena, bioquímico e imunologista e pesquisador principal do Conicet (Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas da Argentina).

Mais 3 milhões de vacinas, da Sinopharm, devem chegar ao país na semana que vem, segundo anunciou o governo nesta quinta. Contudo, esse produto só tem permissão para ser aplicado em menores de 60 anos. O resultado é que, até agora, apenas meio milhão de doses foram aplicadas em idosos, segundo dados do governo. Não é possível saber quantos receberam só uma dose e quantos estão completamente imunizados, mas o número é pequeno (cerca de 7%) em uma população de mais de 7 milhões de pessoas. O número de pessoas menores de 60 com comorbidades que já foram vacinadas é ainda menor: cerca de 2%.

Uma análise feita pelo jornal La Nación estima que, se a vacinação de maiores de 60 e pessoas com comorbidades continuar neste ritmo, demoraria mais dez meses para conseguir imunizar esses dois grupos de risco.

Na semana passada, o presidente Alberto Fernández havia dito que estava definindo com a Rússia um cronograma para que haja entregas semanais da Sputnik V à Argentina, mas datas e números não foram revelados.

Rodrigo Quiroga, doutor em Ciências Químicas, sugeriu que o ideal seria a chegada de 600 mil doses de Sputnik V por semana, priorizando a vacinação dos idosos – a aplicação do produto em maiores de 60 foi autorizada no país ainda em janeiro. Ou que a vacina da Sinopharm seja aprovada para esta faixa etária, o que a agência reguladora de medicamentos da Argentina está estudando.

Logística e prioridades

Outros analistas apontam também para problemas de logística do Ministério da Saúde. O ex-ministro da Saúde Adolfo Rubinstein, da oposição, salientou que até 9 de março das 4 milhões de doses de vacina, um milhão ainda não haviam sido distribuídas pelo Ministério da Saúde. O número, atualizado nesta quinta-feira, caiu para 600 mil. Mas das doses que foram distribuídas, as províncias aplicaram, em média, 62% delas.

“O sistema de saúde delega a operação logística às províncias: falta coordenação e liderança por parte do Ministério da Saúde, que ainda não parece estar em condições de liderar a campanha de vacinação. Isso é diferente do que está acontecendo no Chile ou no Uruguai”, comparou Rubinstein, em entrevista ao La Nación.

Rubinstein também critica o governo de Fernández por ter incluído professores, de todas as séries, inclusive universitários, e pessoas que trabalham em estabelecimentos educacionais na lista de grupos prioritários para a vacinação a partir deste mês. Segundo ele, pessoas que não são do grupo de risco, como professores jovens, não poderiam receber o imunizante. “O esquema de prioridade não está sendo respeitado”, disse ele.

O pessoal da educação, estimado em cerca de 1,5 milhão de pessoas, receberá as doses da Sinopharm, que não podem ser aplicadas em idosos. A vacinação foi uma das exigências de sindicatos docentes para a volta às aulas presenciais no país. O retorno ocorreu em 17 de fevereiro, depois de um ano de ensino virtual.

A aplicação de doses neste grupo vai acelerar a campanha de vacinação na Argentina de um modo geral, como visto nos últimos dias, mas a preocupação com os maiores de 60 continua.

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