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Foto do ditador Kim Jong-un, tirada em 28 de agosto de 2016 e divulgada pela Agência Central de Notícias da Coreia do Norte (KCNA)| Foto: AFP PHOTO / FILES / KCNA VIA KNS

À medida que crescem os rumores sobre a saúde do ditador norte-coreano Kim Jong-un, surgem dúvidas sobre uma eventual transição de governo caso algo aconteça com ele. A imprensa internacional tem dedicado reportagens e perfis sobre a irmã mais nova de Kim Jong-un, Kim Yo-Jong, que parece ser uma das mais aptas a assumir a liderança do país caso o ditador esteja realmente morto - embora o fato de ser mulher torne isso praticamente impossível, segundo analistas.

Na avaliação de Jenny Town, pesquisadora do centro de estudos Stimson Center e diretora do 38 North, site dedicado a analisar os acontecimentos políticos da Coreia do Norte, um vácuo de poder em Pyongyang poderia trazer sérias consequências para o país de 25 milhões de habitantes.

Em entrevista, Town explica a racionalidade por trás das ações do regime de Kim Jong-un e do desenvolvimento de armas nucleares e traça um retrospecto de suas principais prioridades na política externa e dos movimentos para estimular a economia.

"Encontrar um equilíbrio entre essas prioridades - desenvolvimento nuclear e desenvolvimento econômico - parece ser uma luta constante para regime de Kim", explica.

O que podemos prever em termos de sucessão do regime se algo realmente acontecer com Kim? É realmente Kim Yo-Jong quem tem preferências neste momento? Quais outras pessoas você diria que também deveriam ser levadas em consideração?

É muito difícil responder. Se o regime tem um plano de contingência, não sabemos qual. As pessoas da Coreia do Norte também não. Portanto, provavelmente haverá desafios significativos tentando implementar qualquer tipo de plano de transição em caso de morte súbita de Kim. Se Kim será sucedido por sua irmã, outro membro de sua família ou algum outro tipo de acordo, é uma incógnita. Mas um vácuo de poder em Pyongyang provavelmente teria sérias consequências de segurança.

Se observarmos os anos em que Kim Jong-Un esteve no poder, de 2011 até hoje, como você descreveria as mudanças que ele implementou no regime, especialmente em termos de economia e inserção internacional da Coreia do Norte?

Kim Jong-un tomou várias ações que se alinham à sua política byungjin, que coloca a mesma prioridade no desenvolvimento de um dissuasor nuclear e na melhoria da economia. Durante seu governo ele acelerou o ritmo do desenvolvimento nuclear e de mísseis, especialmente os testes.

Como eram os testes antes?

Sob Kim Jong-il, os testes de mísseis da Coreia do Norte eram poucos e distantes entre si. Geralmente tinham algum objetivo político, especialmente sabendo que cada teste seria seguido de medidas punitivas da comunidade internacional. Durante a era Kim Jong-un, os testes nucleares e de mísseis tornaram-se uma ocorrência regular, mais alinhada com o que seria necessário para alcançar avanços técnicos, ao invés de simplesmente serem uma sinalização política.

Ele não apenas testou com mais frequência, mostrando melhorias em cada um, mas também apresentou suas conquistas com fotos e vídeos que demonstraram seus recursos crescentes.

Que mudanças podemos observar na economia?

Mudanças significativas. Os mercados deixaram de ser um tabu e um nível de atividade do mercado privado foi formalizada. Foram estabelecidas leis que davam opções mais amplas aos investidores estrangeiros em zonas econômicas especiais, maior autonomia aos diretores de empresas estatais, fazendas coletivas foram reestruturadas e outras medidas que parecem incentivar maior produtividade e, em grau limitado, negócios e investimentos.

A mensagem de Kim Jong-un quando ele introduziu a política de byungjin era que o povo norte-coreano nunca mais precisaria "apertar o cinto". As medidas que vem aplicando nos últimos anos parecem ter como objetivo cultivar o lado privado da economia de maneira crescente, enquanto ainda mantém o controle social sobre as pessoas.

E como fica a política externa nessa estratégia?

Melhorar as relações externas é uma parte necessária de qualquer tipo de estratégia de desenvolvimento econômico para facilitar e o comércio e o investimento. Encontrar um equilíbrio entre essas prioridades - desenvolvimento nuclear e desenvolvimento econômico - parece ser uma luta constante para regime de Kim.

Por que um país do "terceiro mundo" tem essa necessidade de ter armas nucleares e fazer testes com tanta frequência? Qual a racionalidade por trás dessa estratégia?

São muitos fatores. A Coreia do Norte é o único país da região que não possui armas nucleares, seja de um programa próprio (como China e Rússia) ou por apoio externo, como Coreia do Sul e Japão, sob o guarda-chuva dos Estados Unidos. Isso deixa o país em uma posição vulnerável - é uma ditadura pobre cercada por nações ricas e fortes.

Há também um histórico de ameaças do uso de armas nucleares contra a Coreia do Norte desde a Guerra da Coreia, quando os EUA estavam perto de usar bombas atômicas para terminar a guerra, mas não fizeram isso. Os EUA então colocaram armas nucleares na Coreia do Sul após a guerra (que eventualmente foram removidas). A Coreia do Sul também havia iniciado um programa clandestino de armas nucleares, que foi abandonado.

Os EUA também já se referiram à Coreia do Norte como parte do eixo do mal - ligado ao Iraque e ao Irã, e a Coreia assistiu ao que aconteceu com Saddam Hussein e como os EUA estão tratando o Irã agora.

Outros fatores podem incluir uma relevância e prestígio percebidos na comunidade internacional e maior alavancagem nas negociações.

E quais são os objetivos de Kim na arena regional e também na internacional ao adotar essas estratégias?

Suas ações parecem ter como objetivo manter sob controle o regime e a segurança do país, melhorando as condições econômicas para além da sobrevivência, elevando o status do Norte na comunidade internacional, mantendo o controle sobre a sociedade e preservando a estrutura política. No entanto, as expectativas de Kim sobre a rapidez com que as relações e condições podem mudar a favor da Coreia do Norte parecem ter sido superestimadas.

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