O presidente venezuelano, Hugo Chávez, tem uma sólida vantagem nas pesquisas de intenção de voto a dois meses e meio das eleições, mas a evolução de sua saúde, o elevado número de indecisos e a campanha do opositor Henrique Capriles podem alterar essa situação, segundo analistas.
O Datanálisis, instituto com um histórico de acertos em eleições passadas, registra uma cômoda vantagem de 15,3 pontos para Chávez, com 46,1% das intenções de voto, contra 30,8% para o opositor Henrique Capriles
Já outra pesquisa, do Hinterlaces divulgada nesta quarta-feira, aponta uma vantagem de 17 pontos para o presidente (47% contra 30%).
O diretor do Datanálisis, Luis Vicente León, garante, no entanto, que o resultado "está completamente aberto".
"É apenas o ponto de partida, não é de chegada", afirmou.
O analista político Farith Fraija concorda que é "muito cedo para falar de irreversibilidade" da vantagem de Chávez e acha que "pode ser reduzida" em função da efetividade dos comícios de Capriles, que tem 40 anos de idade, 18 a menos que Chávez.
Contudo, Fraija considera que "o único concorrente que pode por Chávez em sérios problemas é a sua saúde".
"Um Chávez de cama, por exemplo, é uma das poucas coisas que poderia reverter os resultados das eleições", explica Fraija, professor do Instituto de Altos Estudos de Controle Fiscal e Auditoria do Estado, à AFP.
Chávez, que completa 58 anos em 28 de julho, passou por duas cirurgias em Cuba devido a um câncer, cuja localização e gravidade são segredos de Estado.
León, por outro lado, pensa que "se Chávez tiver uma recaída, terá que mentir", pois se não adotar essa postura a "solidariedade inicial" que gerou há um ano, quando anunciou a doença, se voltará contra ele pelo medo de que deixe um vazio no poder.
Após quase 14 anos na presidência, Chávez, que disse estar livre do câncer, está convencido de sua vitória em 7 de outubro, mas, em seus discursos, cada vez mais frequentes desde que voltou às ruas, vem repetindo que lutará até o fim, sem se deixar levar pelo excesso de confiança.
Batalhas
Já Capriles, ex-governador do rico estado de Miranda (norte), está há meses percorrendo todos os cantos do país e não se deixa abalar pelas pesquisas, enquanto lembra que em suas batalhas eleitorais anteriores - foi deputado e prefeito - sempre começava atrás, mas acabava ganhando.
O diretor do Datanálisis destaca dois aspectos de sua última boca de urna.
Por um lado, a brecha entre ambos os candidatos diminuiu dois pontos - de 17 para 15 - na semana depois de registrarem suas candidaturas no Conselho Nacional Eleitoral no início de junho. Para ele, esse foi o marco "do início da campanha na mente dos eleitores", pois a apresentação de Chávez ainda era uma dúvida para parte do eleitorado.
Por outro, o número de indecisos passou de 29% para 23% desde essa data, dentre os quais 55% afirmam votar em Capriles e 45% em Chávez.
Esse ritmo, no entanto, não será suficiente para o candidato opositor, calcula León. "Capriles precisa convencer mais indecisos para diminuir a diferença (...) Ele está fazendo todo o possível em seu (percurso) casa a casa", tendo sua juventude como arma, e tem muitos desafios pela frente. Já Chávez "não pode dar voltas pelo país", acrescenta.
Segundo León, para presidente, "a inclusão excludente tem funcionado muito bem. 'Todos os que estão comigo vão ter coisas, todos os que não estão comigo não vão ter nada'".
Ele explica que Chávez conta ainda com um enorme "leque de recursos" com os quais busca criar a sensação entre os mais necessitados de que algum dia serão beneficiados, com, por exemplo, as casas subsidiadas pelo Estado.
Capriles deve lutar também contra o que a ONG Espacio Público classifica como "uso aproveitador" que o presidente faz dos meios de comunicação oficiais, como ocorre com as intervenções, que utiliza "para fazer campanha de maneira explícita", de difusão obrigatória por todos os canais.
Enquanto as emissoras estatais, que são muitas, têm alcance nacional, a única opositora, a Globovisión, alcança apenas as cidades de Caracas e Valência.