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Entrevista

“Vão tentar fazer o possível para enfraquecer o Hezbollah”

Gazeta do Povo – Como o senhor analisa os ataques de Israel ao sul do Líbano?Nader Ali Jezzini – Existe um projeto dos EUA para o Oriente Médio e para outras regiões do mundo todo. Os EUA querem que todos aceitem as propostas e quem não aceita é considerado inimigo. As populações árabes vem percebendo que está ocorrendo muita injustiça. No Líbano, depois de 22 anos de ocupação israelense no sul de seu território, surgiu uma resistência (o Hezbollah) que tem o aval do governo libanês – uma vez que o Líbano não possui armamento suficiente para se defender diante do poderio militar israelense.

O Hezbollah passou a ser um meio para libertar o Líbano. Israel, durante a sua invasão, aprisionou um número considerável de palestinos e libaneses, e em nenhum momento permitiu que o governo libanês tivesse acesso aos seus prisioneiros. Apenas a Cruz Vermelha em alguns momentos conseguiu intermediação. O Hezbollah viu a necessidade de aprisionar soldados israelenses para fazer a troca.

Mas este tipo de negociação pode ocorrer neste momento?Acredito que não. Se houvesse a troca de reféns por prisioneiros representaria um equilíbrio no conflito, isso Israel e Estados Unidos não querem. Creio que seja impossível agora, mas existe outra possibilidade, já que Israel deseja que o Exército libanês ocupe o sul do Líbano e faça uma proteção. Mas creio que isso também não vá ocorrer.

Existem mais de 10 mil palestinos nas prisões israelenses há mais de 25 anos sem direito a ver suas famílias e a um julgamento justo, a exemplo de Guantánamo.

EUA e Israel não querem nenhuma força capaz de enfrentá-los de igual para igual. Vão tentar fazer o possível para enfraquecer o Hezbollah, tanto politicamente quanto militarmente. Mas o Hezbollah está mais fortalecido apesar das baixas de civis libaneses.

E no caso de Gaza?Israel tenta enfraquecer o Hamas, que teve uma ampla vitória na última eleição legislativa palestina, promovendo a destruição de infra-estrutura, bloqueio financeiro, de alimentos, remédios. O objetivo é para que o Hamas mude ou deixe o governo, isso à custa de vítimas. Será difícil o Hamas entregar o soldado israelense seqüestrado porque enfrentam pressão interna dos familiares daqueles que estão nas prisões israelenses há anos. Os civis estão sem esperança, uma vez que estão sendo bombardeados com ou sem o Hamas no poder.

Como sair desse impasse do não-reconhecimento de Israel pelo Hamas?A situação é complicada, complexa e não será resolvida no curto prazo. A questão não reside apenas em Gaza e Líbano.

Como o senhor analisa o custo das mortes de civis no conflito?A Convenção de Genebra prevê que, em nenhum momento, civis de qualquer parte do mundo podem ser atingidos. Lamentavelmente, toda ação corresponde a uma reação. Percebemos que sempre quem paga pelos confrontos são civis independentemente de que lado estejam. Civis deveriam ser isolados neste tipo de conflito. A questão do conflito não é o aprisionamento dos soldados israelenses. Nada justifica os bombardeios que estão ocorrendo contra civis. Só o governo dos EUA não concordam com isso.

Qual deveria ser a postura de Abbas?Em alguns momentos, Abbas tenta manter uma posição uniforme em relação a todos os palestinos. Ora quer enfrentar a questão palestino-israelense. Abbas enfrenta dois grandes problemas, um interno e outro externo.

O meio para se alcançar a autonomia e a independência é que diferem entre o Hamas e Abbas, do Fatah. Enquanto isso não se equaciona, creio que sempre haverá enfraquecimento e divergência. Assim como ocorrem divergências no Parlamento israelense. A opinião pública acaba pesando bastante. No caso de Israel sempre teve papel crucial na solução do conflito bélico. (KC)

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