Estocolmo - A Academia Sueca surpreendeu ontem ao conceder o Prêmio Nobel de Literatura ao peruano Mario Vargas Llosa, 74 anos. Um dos principais escritores e intelectuais da atualidade, de talento reconhecido em diversos países, Vargas Llosa integrava até ontem a lista dos eternos favoritos ao prêmio sempre preteridos na última hora.
Isso porque as últimas escolhas do comitê sueco privilegiaram autores pouco conhecidos fora de seus países, mais identificados pelo caráter político do que propriamente pelas suas qualidades literárias. Foi o caso da romena Herta Müller, vencedora do prêmio em 2009.
Segundo a Academia Sueca, que o premiará com cerca de R$ 2,7 milhões, o peruano foi escolhido "pela sua cartografia das estruturas de poder e pelas suas imagens mordazes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos.
Amiga de Vargas Llosa, a brasileira Nélida Piñon contou que a notícia foi dada em primeira mão à agente do peruano, Carmen Balcells.
Escritores brasileiros definiram como justa e tardia a premiação do peruano, destacando seu domínio das técnicas narrativas.
Entre outros prêmios, o escritor já foi condecorado com o Cervantes, em 1994, e o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras Espanha, em 1986.
O Nobel virá ao Brasil em 14 de outubro, quando participa, em Porto Alegre, do Fronteiras do Pensamento.
Veia cômica
Vargas Llosa nasceu em 1936, na cidade de Arequipa. Estudou Letras e Direito em Lima. Em 1959 mudou-se para a Espanha. Intercalaria, a partir daí, períodos entre o Peru e a Espanha. No mesmo ano publicou seu primeiro livro, a coletânea de contos Os Chefes.
A ele seguiu-se A Cidade e os Cachorros (1963). A consagração definitiva viria com Conversa na Catedral (1969), em que aborda 30 anos da história peruana.
Outras obras de sucesso são Pantaleão e as Visitadoras (1973) e Tia Julia e o Escrevinhador (1977), ambos críticas de forte veia cômica sobre a sociedade peruana.
Inspirado em Os Sertões, de Euclydes da Cunha, Vargas Llosa elegeu Canudos como tema de A Guerra do Fim Mundo (1981).
O autor chegou a empreender pesquisas em arquivos históricos e viagens ao sertão da Bahia para resgatar a história de um dos conflitos mais sangrentos da história brasileira.
Além da atividade como ficcionista, o autor destaca-se também como crítico literário. Publicou ensaios sobre Gabriel García Márquez e o francês Gustave Flaubert (1821-1880).
Política
A escolha deste ano também chama a atenção por contrariar a tendência de premiar escritores de pensamento de esquerda.
A partir da década de 80, Vargas Llosa passou a ser um dos defensores do pensamento neoliberal. Em 1987, participou de um movimento contra a estatização da economia peruana, em voga no governo do presidente Alan García Pérez.
Em 1990 foi candidato à presidência do Peru pela Frente Democrática, partido de centro-direita, mas perdeu para Alberto Fujimori.
Leia amanhã no G Ideias sobre a briga entre Vargas Llosa e Gabriel García Márquez.