Admiradores da arte e da arqueologia da era romana podem agradecer ao problema do estacionamento no Vaticano pela descoberta de uma das mais bem preservadas necrópoles do mundo - dentro dos muros da pequena cidade-estado.
Ela foi aberta nesta segunda-feira, três anos depois que foi descoberta por operários que abriam caminho para uma nova garagem para resolver a questão do estacionamento no Vaticano.
- Encontramos o tipo de coisas que normalmente estão perdidas em escavações em Roma - disse Giandomenico Spinola, diretor dos trabalhos de escavação e restauração.
Uma das novidades da necrópole, situada ao longo do que era a antiga Via Triumphalis que os guerreiros romanos usavam quando voltavam de campanhas, é o fato de oferecer uma mistura de sítios funerários tanto para romanos ricos quanto para os de classe média.
- A História não é feita apenas de generais e reis - disse Paolo Liverani, outro integrante da equipe do Vaticano que conduziu o projeto de restauração, perto da Basílica de São Pedro. - Não se trata do tipo de necrópole comum no centro de Roma. É única. Para se achar algo similar, você tem de ir até Ostia - disse ele, referindo-se ao sítio arqueológico no antigo porto a oeste da cidade.
As escavações encontraram cerca de 40 mausoléus e 200 tumbas individuais arranjados em níveis múltiplos, a maioria bem-preservada e datando de um período entre o fim do primeiro século antes de Cristo e o século IV.
Um deslizamento de terra no fim do século II ajudou a cobrir o sítio e a preservá-lo.
As tumbas mais simples incluem altares funerários com urnas de terracota que tinham cinzas de corpos cremados.
Ao lado de tumbas de romanos comuns - um era carteiro, outro era treinador de cavalos de circo, por exemplo - estão sarcófagos finamente esculpidos de romanos que tinham mais dinheiro.
Um mosaico mostra o deus do vinho, Dionísio, devidamente embriagado. O mosaico foi restaurado pelo laboratório de restauração dos Museus do Vaticano e colocado em seu local original. Um dos sarcófagos de confecção intrincada inclui a figura de um homem rezando, indicando que ele pode ter sido um romano rico que se converteu ao cristianismo antes que o imperador Constantino tornasse a religião legal, no ano de 313.
- Isto é um trabalho em aberto - disse Francesco Buranelli, diretor dos museus do Vaticano.
Alguns dos esqueletos que foram descobertos ainda estão meio enterrados, tornando a visita um tanto assustadora, por ser altamente realista.