Os sinos repicaram nas igrejas e o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, manteve o canto do Te Deum na Catedral da Sé e no Pátio do Colégio, na região central da capital, em ação de graças pela canonização de José de Anchieta (1534-1597), apesar de o papa Francisco ter adiado de ontem para hoje a assinatura do decreto que declara santo o Apóstolo do Brasil.
Dom Odilo disse que só soube do adiamento às 6h30 de ontem. Ele atribuiu a decisão do Vaticano a problemas de agenda do papa. O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, distribuiu um comunicado, sem explicações, sobre o adiamento.
Segundo a CNBB, o decreto de canonização será assinado hoje, "por volta do meio-dia", horário de Roma às 7 horas no Brasil. No Vaticano, a informação era de que Francisco assinará o decreto às 11 horas, em audiência com o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Angelo Amato. Corria também uma versão de que a assinatura do documento seria às 9 horas.
A data da canonização estava imprecisa desde quando se anunciou a medida, tendo sido informado oficialmente apenas que ela se realizaria, sem cerimônia solene, nos primeiros dias de abril.
Fonte do Vaticano confidenciou ontem ao Estado que foi sugerido a Francisco que ele assinasse o decreto na terça-feira, mas ele alegou que não seria uma boa data, porque 1.º de abril é o Dia da Mentira.
Exemplo
Dom Odilo, que falou aos jornalistas ao lado de dois padres jesuítas, o superior provincial Mieczyslaw Smyda e o reitor da igreja do Pátio do Colégio, Carlos Alberto Contieri, disse que, para Anchieta ser considerado santo, o mais importante é seu exemplo de vida. O cardeal citou a atuação do padre como evangelizador dos índios e como professor do primeiro colégio, o de São Paulo, fundado pela Companhia de Jesus.
Obra inclui cartas, autos e poesias
Nascido na Espanha, José de Anchieta chegou ao Brasil ainda jovem, com a tarefa de catequizar os índios. Em território brasileiro, foi um dos fundadores do Colégio de São Paulo, que começou como um povoado e mais tarde deu origem à maior cidade do país, São Paulo.
O jesuíta Anchieta (na imagem, a obra "Evangelho nas Selvas", de 1893, pintada por Benedito Calixto) manteve uma relação fraterna com os indígenas, defendendo-os dos portugueses que tentavam escravizá-los. O padre Anchieta, como ficou conhecido, lutou contra os franceses e fundou o povoado de Iritiba, que por suas origens é hoje o município de Anchieta, no Espírito Santo. Foi o autor de vários autos, cartas e poesias, além de atuar como teatrólogo e historiador. Um de seus poemas, o "Poema à Virgem", teria sido escrito na areia, enquanto estava preso pelos tamoios, e depois transcrito para o papel. A ele são atribuídos diversos milagres, que fizeram com que, logo após sua morte, em 1597, tivesse início o processo de canonização, concluído somente agora.