O Vaticano condenou neste sábado a execução de Saddam Hussein classificando-a como um ''evento trágico'' e advertiu que ela pode fomentar o espírito de vingança e provocar mais violência no Iraque.
``Uma sentença de morte sempre é uma notícia trágica, um motivo de tristeza, mesmo que se trate de uma pessoa culpada de crimes graves'', disse o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.
``A posição da Igreja (contra a pena de morte) tem sido reafirmada constantemente'', disse ele.
A Igreja Católica ensina que a pena de morte é injustificável hoje porque a sociedade moderna desenvolveu formas de evitar que uma pessoa que já cometeu um crime volte a fazê-lo e também por afirmar que apenas Deus pode tirar uma vida.
``A morte do culpado não é a forma de restabelecer a justiça e reconciliar a sociedade. Ao contrário, há um risco de que ela alimente o espírito de vingança e provoque mais violência'', disse ele.
O Vaticano, que foi contra a invasão do Iraque liderada pelos EUA, disse que a execução de Saddam deve piorar a situação no país.
``Nesses tempos sombrios para o povo iraquiano, só podemos ter esperança de que cada um dos responsáveis realize todos os esforços para que lampejos de reconciliação e paz sejam encontrados em meio a uma situação tão dramática.''
Saddam foi enforcado por crimes contra a humanidade na manhã de sábado em Bagdá, um fim dramático e violento para um líder que governou o Iraque através do medo durante três décadas antes de ser derrubado pela invasão norte-americana há quatro anos.
A guerra no Iraque foi a causa de um dos maiores desentendimentos entre os governos do Vaticano e dos Estados Unidos.
Quando a invasão tornava-se iminente, em 2003, o então papa João Paulo 2o enviou cardeais aos EUA, para pedir que o presidente dos EUA, George W. Bush, não invadisse o país, e ao Iraque, para que Saddam obedecesse as resoluções internacionais.
As relações pioraram após a captura de Saddam em 2003, quando o ministro da Justiça do papa, cardeal Renato Martino, criticou os militares norte-americanos por tratarem o ex-líder iraquiano ``como uma vaca''.