O Vaticano divulgou comunicado nesta terça-feira (29) para afirmar que o papa Francisco não glorificou o imperialismo da Rússia ao citar czares do país euroasiático numa videoconferência com jovens católicos russos na última sexta-feira (25).
No evento, Francisco disse: “Vocês são herdeiros da grande Rússia – a grande Rússia dos santos, dos reis, a grande Rússia de Pedro, o Grande, de Catarina II, o grande Império Russo, culto, tanta cultura, tanta humanidade. Vocês são os herdeiros da grande mãe Rússia. Sigam em frente”.
Os dois czares citados pelo papa promoveram a expansão do Império Russo durante os séculos 17 e 18, anexando inclusive regiões da Ucrânia, e a menção de Francisco a ambos foi criticada por Kiev.
“É precisamente com esta propaganda imperialista, [sobre] os ‘laços espirituais’ e a ‘necessidade’ de salvar a ‘grande Mãe Rússia’ que o Kremlin justifica o assassinato de milhares de ucranianos e a destruição de cidades e aldeias ucranianas”, afirmou Oleg Nikolenko, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, no Facebook.
Em comunicado, o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, negou que a intenção do papa tenha sido enaltecer o imperialismo russo.
“O papa pretendia encorajar os jovens a preservar e promover tudo o que há de positivo na grande herança cultural e espiritual russa, e certamente não exaltar a lógica imperialista e personalidades governamentais, mencionadas para indicar alguns períodos históricos de referência”, afirmou Bruni.
Nesta terça-feira, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, em entrevista à agência de notícias italiana Ansa, elogiou Francisco e disse que o Kremlin “aprecia muito a linha equilibrada do Vaticano sobre o conflito ucraniano e os esforços da Santa Sé e do papa Francisco, pessoalmente, visando um acordo pacífico, que infelizmente são abertamente rejeitados pelo regime de Kiev”.
Na videoconferência com os jovens russos, Francisco desejou-lhes “a vocação de serem artesãos da paz no meio de tantos conflitos, no meio de tantas polarizações que estão por toda parte, que afligem o nosso mundo”.
“Convido-os a serem semeadores, a semear sementes de reconciliação, pequenas sementes que neste inverno de guerra não germinarão por enquanto em solo congelado, mas numa futura primavera florescerão”, disse o papa.