O Vaticano pediu no sábado (18) que católicos e judeus parem de exercer "pressão" sobre o papa Bento sobre a designação de "santo" a seu polêmico predecessor da era nazista, o papa Pio 12.
Pio, que foi papa de 1939 a 1958, foi acusado por alguns judeus de fazer vista grossa ao Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial --acusação negada pelo Vaticano.
O principal porta-voz do Vaticano, reverendo Federico Lombardi, divulgou um comunicado incomum depois que uma agência de notícias italiana publicou entrevista com o reverendo Peter Gumpel, o juiz do Vaticano que está investigando a santidade de Pio.
Gumpel, um grande defensor da santidade de Pio, disse na entrevista que Bento havia paralisado o processo da canonização porque ele prejudicaria a relação com os judeus.
No ano passado, o departamento de criação de santos do Vaticano decidiu em favor de um decreto reconsiderando as "virtudes heróicas" de Pio, um passo do longo processo de canonização, que começou em 1967.
Bento ainda não sancionou o decreto --o que é necessário para a beatificação, o último passo antes da canonização-- optando por "um período de reflexão," segundo o Vaticano.
"Nesta situação, não é oportuno exercer pressão sobre ele (o papa) de um ou de outro lado", disse Lombardi.
O Vaticano parece estar se empenhando em se distanciar das afirmações de Gumpel, que disse em entrevista que Bento não visitaria Israel a menos que a legenda de uma fotografia de Pio no museu Yad Vashem, de Jerusalém, seja modificada.
A legenda diz que Pio "se absteve de assinar a declaração dos Aliados condenando o extermínio dos judeus" e "manteve sua posição neutra durante toda a guerra".
O comunicado do Vaticano também afirma que, ainda que a igreja católica tenha deixado claro para as autoridades israelenses que considera a legenda inapropriada, era errado considerá-la "um fator determinante" na decisão sobre a visita papal.
Alguns dizem que Pio não fez o suficiente para salvar judeus. O Vaticano e seus defensores judeus dizem que ele trabalhou nos bastidores para ajudar, uma vez que a intervenção direta só pioraria a situação.
Bento defendeu Pio muitas vezes, dizendo que ele trabalhou "secreta e silenciosamente" durante a Segunda Guerra Mundial para "evitar o pior e salvar o maior número de judeus possível".