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Dois anos e meio após uma quase hecatombe nuclear provocada por um terremoto seguido por violentas tsunamis, vazamentos seguidos e a iminência de um grande transbordamento de água contaminada para o Oceano Pacífico colocaram em estado de emergência o complexo nuclear de Fukushima - e renovaram a pressão política sob a criticada empresa Tokyo Electric Power Co. (Tepco). O nível da água subterrânea radioativa tem subido a patamares acima da barreira em construção para contê-la, elevando o risco de aumentar o despejo dessa água contaminada no mar. A denúncia foi feita pelo "Asahi Shimbun", citando uma reunião ocorrida na sexta-feira, quando uma força-tarefa do governo japonês calculou em três semanas o prazo para a água contaminada chegar à superfície.

Somente no mês passado, a Tepco admitiu pela primeira vez o aumento do nível da água e os primeiros sinais de vazamento e contaminação do oceano a partir dos reatores destruídos - confirmando as suspeitas de especialistas japoneses, céticos quanto às alegações do operador de que a água tóxica tinha sido contida. Ontem, foi a vez de a agência reguladora endurecer as críticas na tentativa de conter um desastre ambiental.

"A água contaminada no lençol freático está subindo para a superfície e excedendo os limites legais de descarga radioativa. Neste momento, temos uma emergência", afirmou o diretor da força-tarefa da Autoridade Reguladora Nuclear do Japão, Shinji Kinjo. "As medidas adotadas pela Tepco são apenas uma solução temporária. O senso de crise deles é fraco. É por isso que não se pode deixar tudo nas mãos só da Tepco."

Logo depois da crise nuclear de março de 2011, a Tepco foi severamente criticada por não ter se preparado adequadamente para situações como o terremoto seguido de tsunami que atingiu o complexo de Fukushima. A empresa também foi acusada de tentar acobertar suas falhas e de reagir de forma incompetente ao derretimento dos reatores.Alvo de cobranças da ONU

Vários incidentes envolveram os trabalhos de contenção desde então. Em abril passado, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o órgão das Nações Unidas encarregado de fiscalizar as atividades nucleares no mundo, cobrou dos operadores de Fukushima soluções para os vazamentos e cortes de energia frequentes que paralisam por horas os sistemas de resfriamento dos reatores. "A Tepco deveria continuar seus esforços de melhorar a confiabilidade dos sistemas essenciais, para avaliar a integridade estrutural das instalações e aumentar a proteção contra perigos externos", cobrou a agência.

O nível da ameaça representado pela água contaminada no lençol freático não está claro. Mas, somente nas primeiras semanas depois do desastre, o governo japonês autorizou a Tepco a despejar dezenas de milhares de toneladas de água contaminada no Pacífico - sob as críticas de países vizinhos e de pescadores. À época, a Tepco prometeu que não jogaria mais água radioativa no mar sem o consentimento de autoridades municipais.

"Até sabermos exatamente a densidade e volume da água que está fluindo, honestamente não posso especular sobre o impacto no mar", afirmou Mitsuo Uematsu, do Centro para a Colaboração Internacional e Pesquisa Atmosférica e Oceânica, da Universidade de Tóquio. "Deveríamos verificar também quais são os níveis na água do mar. Se for só dentro do porto e não estiver escoando para o mar, ela pode não se espalhar tanto quanto temem alguns."

O episódio mostra os obstáculos enfrentados pela Tepco para lidar como maior desastre nuclear mundial desde Chernobyl. Um dos maiores desafios é tentar evitar que a água radioativa que resfria os reatores se misture com a água subterrânea fresca. A Tepco tem injetado no solo um produto químico para construir barreiras para a água subterrânea. O método, porém, só é efetivo em solidificar o solo a partir de 1,8 metro abaixo da superfície. E segundo o "Asahi Shimbun", a água contaminada teria subido a um metro abaixo da superfície terrestre.

"Se você constrói uma parede, é claro que a água vai se acumular ali. A água não tem outro destino, a não ser subir e, eventualmente, escapar para o oceano. A pergunta agora é: quanto tempo temos?", indagou Masashi Goto, um engenheiro nuclear aposentado da Toshiba Corp.

Procurada, a Tepco disse estar adotando várias medidas para que a água contaminada não saia da baía próxima a Fukushima. A usina bombeia diariamente 400 toneladas de água que escorre pelo lençol freático dos morros próximos à usina. A água é guardada em porões dos prédios destruídos, onde se mistura à água altamente radioativa que é usada para resfriar os reatores e mantê-los estáveis, abaixo de 100 graus Celsius. Ontem, a empresa disse que planeja, já no fim desta semana, começar a bombear mais 100 toneladas de água por dia.

A Tepco calculou entre 20 trilhões a 40 trilhões de becquerels (a unidade que mede a atividade radioativa) a quantidade de trítio lançada no mar desde março de 2011. A substância, um isótopo do hidrogênio radioativo, causa menos danos que o césio e o estrôncio, também vazados de Fukushima. Mas, de acordo com a empresa, o nível está próximo ao permitido pelos órgãos de segurança antes do acidente: 22 trilhões de becquerels por ano.

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