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Capa provisória a ser usada na usina nuclear de Fukushima Daiichi, fotografada no porto de Onahama no dia 24 de junho | Tokyo Electric Power Co./Reuters
Capa provisória a ser usada na usina nuclear de Fukushima Daiichi, fotografada no porto de Onahama no dia 24 de junho| Foto: Tokyo Electric Power Co./Reuters
  • Vista noturna de Tóquio, com parte das luzes apagadas como medida de economia de energia, em março
  • Policiais usando máscaras protetoras orientam as pessoas que vivem no raio de 10 km da usina de Fukushima Daiichi a evacuar a região, em março passado

Sob todos os aspectos, os milhares de pessoas trabalhando para esfriar os reatores nucleares estragados de Fukushima estão engajados em trabalhos que os japoneses consideram kitanai, kitsui e kiken, ou seja, sujos, difíceis e perigosos.

Mesmo sendo, aparentemente, contra a lógica, Yasuteru Yamada, de 72 anos, está ávido por uma chance de participar. Depois de ver centenas de jovens na televisão lutando para controlar os estragos da central nuclear de Daiichi, Yamada foi tomado por uma ideia: recrutar outros engenheiros mais velhos e outros especialistas para ajudar a domesticar os agonizantes reatores.

Eles não possuem apenas algumas das técnicas necessárias, mas, graças a sua idade avançada, eles correm menos riscos de ter câncer e outras doenças que se desenvolvem lentamente como resultado da exposição a altos níveis de radiação. Seu voluntariado pouparia jovens japoneses do perigo que poderia deixá-los sem filhos ou coisas ainda piores.

"Nós temos de conter esse acidente e, para isso, alguém tem de fazer o trabalho", disse Yamada, engenheiro de produção aposentado que trabalhou para a Sumitomo Metal Industries. "Seria um grande benefício para a sociedade se a velha geração fizesse o trabalho, afinal, nós seremos menos prejudicados se trabalharmos lá".

A resposta foi instantânea. Cerca de 400 pessoas se voluntariaram, incluindo um cantor, um cozinheiro e um senhor de 82 anos de idade. Outros 1.200 ofereceram apoio, enquanto as doações chegaram aos 4,3 milhões de ienes ou US$ 54 mil. Seu blog foi traduzido em 12 línguas.

Papel da velhice

Ainda que Yamada, um sobrevivente de câncer de fala mansa, tenha começado com apenas um único objetivo, ele desencadeou um amplo debate sobre o papel da velhice no Japão, o sentido do voluntariado e a crescente realidade de que a Tokyo Electric Power Co. (Tepco), proprietária dos reatores, enfrentará muita dificuldade para contratar trabalhadores. Alguns especialistas esperam que o Japão, no final das contas, importe trabalhadores para ajudar com a limpeza.

Mais de 3 mil homens, muitos deles em meio-período e mal- pagos, estão em Daiichi. Muitos deles já sofreram ataque cardíaco e nove foram expostos à radiação mais do que o tempo permitido por lei. Dezenas de trabalhadores não apareceram mais.

Yamada e seu grupo são descritos como patriotas altruístas em busca de um bem maior, malucos dispostos a se atirar em meio ao dano, ou aposentados com muito tempo livre. As descrições não chegam ao ponto que interessa, segundo Shiotani, que teve uma ideia mais prática.

"Centrais nucleares são in­venções de cientistas e engenheiros", ele disse. "Eles criaram essa bagunça e precisam consertá-la".

Exércitos suicidas

Perante o perigo, querer ajudar e receber a permissão de ajudar são coisas distintas. Alguns legisladores inicialmente zombaram dos voluntários, incluindo Goshi Hosono, assessor do primeiro-ministro, Naoto Kan, que disse aos repórteres em maio que o trabalho em Fukushima não necessitava de "exércitos suicidas".

"É louvável que eles sacrifiquem suas vidas e se voluntariem para resolver essa situação," explicou mais tarde Hosono. No entanto, "eles têm uma certa idade e nós não queremos que fiquem doentes após terem trabalhado em um ambiente tão perigoso e cheio de máscaras".

Mas em um país carente de boas histórias, o Corpo de Veteranos Peritos conquistou o coração de muitos. Choveram pedidos de entrevistas em todo o mundo. Políticos juntaram-se lentamente ao barco. Em 6 de junho, Yamada encontrou Banri Kaieda, o ministro da Economia, Comércio e Indústria, que prometeu ajudar os voluntários antes que seu "entusiasmo fosse apagado".

"Eu pensei, que ideia corajosa, quando tantos japoneses e não japoneses estão com medo de ir a Fukushima," disse Hiroe Makiyama, parlamentar do Partido Democrata do Japão, o partido de Kan, que está ajudando a promover o projeto. "Ninguém está querendo morrer lá. Eles não querem realmente fazer isso, mas eles sentem que devem fazê-lo".

Espartano

Yamada ficou tão ocupado ao trabalhar de casa que acabou encontrando um escritório em um estreito prédio na vizinhança de Shimbashio, em Tóquio, em um quarto espartano com alguns computadores, uma jarra de água quente e algumas cadeiras dobráveis.

Yamada e sua equipe entraram com pedido para tornarem-se uma organização sem fins lucrativos e estão esperando sua autorização para visitar a central de Daiichi em julho.

Yamada e Shiotani dizem que a pior parte do trabalho é lidar com funcionários da Tepco. Como engenheiros, eles entendem que seus colegas de trabalho, que certamente estão muito ocupados, provavelmente têm egos feridos, dada a dimensão dos danos e do status decadente da companhia.

Mas, diferentemente dos bem pagos consultores e vendedores, o Corpo de Veteranos Peritos não tem nada a vender além de suas ideias e seu trabalho duro. Como voluntários, eles não possuem conflito de interesses e podem falar abertamente, conforme contam. Ainda assim, Yamada e Shiotani reconhecem que eles devem ser humildes.

Yoshimi Hitotsugi, porta-voz da Tepco, disse que a companhia "aprecia muito" as ofertas de ajuda, mas que ela continuará decidindo sobre o que os voluntários são capazes de fazer e como assegurar a sua segurança.

Yamada, ávido ciclista, disse que não espera começar a trabalhar na central nuclear de Daiichi até o outono, por causa do intenso calor e da umidade do verão. Ele diz que nunca um engenheiro e ninguém, nem mesmo trabalhadores mais velhos, devem fazer algo demasiadamente rápido.

"Não tomaremos nenhuma ação precipitada ou sem sentido" ele disse. "Não iremos fazer um trabalho que não traga frutos."

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