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A Justiça da Rússia condenou, nesta terça-feira (27), a dois anos e seis meses de prisão por desacreditar o Exército, o veterano ativista Oleg Orlov, líder da Memorial, organização de direitos humanos que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2022.
Assim que a decisão foi anunciada, agentes da lei encapuzados algemaram Orlov, de 70 anos, e colocaram-no em uma cela na mesma sala do Tribunal Golovinski, em Moscou.
O ativista foi condenado por um artigo em que qualificou o atual regime político de “totalitário e fascista”, algo que, diante do que tem acontecido nos últimos meses, incluindo a recente morte na prisão do opositor Alexei Navalny, não exagerou "nem um pouco", de acordo com suas palavras.
Em 11 de outubro do ano passado, Orlov, que também se manifestou na Praça Vermelha contra a guerra na Ucrânia, foi multado em 150 mil rublos (cerca de US$ 1,5 mil) pelo mesmo caso, mas o Ministério Público apelou da decisão acusando Orlov de “nutrir ódio ideológico e político” contra a Rússia, após o que o Tribunal da Cidade de Moscou ordenou um novo julgamento.
Depois a juíza levou em conta como atenuante, entre outras coisas, a idade do acusado e sua brilhante carreira como ativista nos últimos 30 anos.
Além disso, também foi acusado nesta ocasião de animosidade contra os princípios morais tradicionais e também contra os valores patrióticos professados pelo Kremlin.
“Nos acusam de desprestígio, sem explicar de que se trata e como se diferencia da crítica legítima. Nos acusam de espalhar intencionalmente informações falsas, mas sem se preocupar em provar sua falsidade”, disse Orlov no dia anterior.
“O Estado em nosso país volta a controlar não só a vida social, política e econômica, mas também aspira ao total controle da cultura, do pensamento científico e invade a vida privada. Se torna absoluto", acrescentou o ativista.
Diversos diplomatas ocidentais, incluindo representantes de Estados Unidos e União Europeia na capital russa, participaram na audiência nesta terça, conforme noticiado pelo Memorial no Telegram.
Durante o julgamento, Orlov recusou-se a reconhecer sua culpa e renunciou à presença de testemunhas em sua defesa, argumentando que isso poderia representar um risco para elas, uma vez que foi classificado no início de fevereiro como agente estrangeiro.
A decisão coincidiu com o nono aniversário do assassinato, perto do Kremlin, do líder da oposição e ex-vice-primeiro-ministro russo, Boris Nemtsov.
Os tribunais abriram o processo criminal contra Orlov em março pelo artigo intitulado “Eles queriam o fascismo, já o têm”, publicado na imprensa francesa e postado em novembro de 2022 no Facebook.
“A guerra sangrenta declarada pelo regime de Putin na Ucrânia não significa apenas o assassinato em massa de pessoas, mas também a destruição da infraestrutura, da economia e dos bens culturais daquele país extraordinário”, dizia o artigo.
Em dezembro de 2021, os tribunais russos liquidaram o Memorial International e o Memorial Human Rights Center por criarem uma "falsa imagem da URSS como um Estado terrorista", após o que a organização recebeu o Prêmio Nobel da Paz um ano depois em Oslo.