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Um tribunal de Bangladesh condenou, nesta segunda-feira (1°), o vencedor do Nobel da Paz Muhammad Yunus e três outras pessoas a seis meses de prisão por supostas violações à legislação trabalhista. Cabe recurso da decisão.
Yunus, de 83 anos, ganhou o Nobel da Paz em 2006 por criar o “banco para os pobres”, um sistema de microcréditos responsável por tirar milhões de pessoas da pobreza. Agora, está sendo acusado, pela primeira-ministra Sheikh Hasina, de “sugar o sangue dos pobres” por não ter criado um fundo de assistência aos funcionários da instituição financeira. Outras acusações incluem problemas com a comprovação da contratação regular de 100 trabalhadores.
Yunus nega qualquer irregularidade. “Estamos sendo punidos por um crime que não cometemos”, disse à imprensa em sua primeira entrevista após a decisão. Abdullah Al Mamun, advogado do banqueiro, ficou igualmente “furioso” com o veredito e garantiu que vai recorrer da decisão. “O Estado não conseguiu provar nada. Apresentamos 109 contradições. Se houver uma contradição, até mesmo um acusado de homicídio é libertado”, afirmou.
A relatora especial da ONU para a liberdade de expressão, Irene Khan, que esteve presente no julgamento, qualificou o veredicto como “paródia de justiça”. “Como cidadã de Bangladesh, no primeiro dia de 2024, estou chocada e aterrorizada ao ver o que está acontecendo com o Estado de direito neste país”, declarou Khan à imprensa.
“O Tribunal do Trabalho tem sido usado como arma contra um vencedor do Prêmio Nobel da Paz enquanto as leis trabalhistas são violadas da forma mais severa todos os dias, em todas as fábricas e até nas ruas de violência, e o governo nada faz”, acrescentou.
O Nobel da Paz tem tido uma relação tensa com as autoridades de Bangladesh desde que a primeira-ministra Sheikh Hasina assumiu o poder.
Em 2010, por exemplo, foi divulgado um documentário que denunciava posíveis transferências ilegais de fundos das instituições administradas por Yunus.
Nos últimos anos, Hasina também criticou Yunus por supostamente influenciar o Banco Mundial a cancelar o financiamento para a construção de um megaprojeto no país.
Yunus enfrenta mais de 170 casos nos quais é acusado de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão fiscal e violações da legislação trabalhista.
Em uma carta aberta enviada a Hasina em 28 de agosto, 176 líderes mundiais, incluindo o ex-presidente americano Barack Obama, o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-moon e mais de 100 ganhadores do Nobel, expressaram preocupação com os “contínuos processos judiciais e assédio” contra Yunus.
O veredito contra o vencedor do Nobel da Paz é divulgado poucos dias antes das eleições gerais em Bangladesh, que estão marcadas para 7 de janeiro.