Motoristas fazem fila para abastecer seus veículos em um posto de gasolina em Caracas, 3 de junho de 2020| Foto: Federico PARRA / AFP
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Existem poucos países tão abençoados quanto a Venezuela, que possui reservas de petróleo maiores do que as de qualquer país do mundo. Possui reservas abundantes de gás natural, carvão, madeira e ouro. E como se isso não bastasse, também possui quilômetros de terras férteis e uma localização geográfica ideal para a exportação de todas as suas bênçãos. No entanto, há uma piada popular por aqui que diz: “Por que Deus foi tão generoso conosco? Ele nos deu tudo, até o clima perfeito, e belas praias. Bem, porque ele também nos deu nossos políticos e uma sociedade que não foi capaz de cuidar de sua nação.”

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Pessoalmente, sempre achei essa "piada" perigosamente enganosa, porque insinua que a Venezuela é um país rico. Os países não são ricos por causa de seus recursos naturais. Os países desenvolvidos são ricos porque têm economias dinâmicas, com setores privados inovadores, um estoque impressionante de capital humano e instituições que incentivam as pessoas a se tornarem cidadãos responsáveis ​​e produtivos – além de governos dispostos a complementar o mercado, fornecendo infraestrutura, segurança coletiva, um sistema de educação funcional e outros bens públicos essenciais ao desenvolvimento econômico. Infelizmente, na Venezuela, não temos nem mercados e nem um setor público bem projetado e eficiente. Essa é a razão pela qual não somos desenvolvidos, e não a má administração grosseira de nossos recursos naturais.

Não é preciso procurar muito pelas provas. Este ano, a Venezuela se tornou oficialmente a primeira nação rica em recursos sem combustível, em uma crise que paralisou o país como nunca antes. Atualmente, o combustível só pode ser adquirido no mercado negro, a um preço impressionante de US$ 9 por galão (cerca de R$ 11,80 o litro). Essa seria uma situação preocupante para qualquer país. Mas o salário mínimo da Venezuela é inferior a US$ 5 (R$ 24,80) por mês, o que significa que praticamente nenhum venezuelano pode pagar por combustível. Essa é a mais recente indignidade em uma crise política que já dura vários anos, que viu o país se acostumar com apagões diários de energia, fornecimento de água não confiável e escassez crônica de alimentos e medicamentos.

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Segundo o ilegítimo governo de Nicolás Maduro, os venezuelanos devem culpar os Estados Unidos pela crise do combustível. Em repetidas ocasiões, Maduro e seus aliados declararam que as sanções financeiras dos Estados Unidos comprometeram drasticamente as finanças da Venezuela. Da mesma forma, eles dizem que as sanções também os impediram de importar gasolina do exterior. Este é um argumento que foi usado no passado como desculpa para outras carências. Ele ignora o fato de que os venezuelanos sofrem com essa escassez desde 2013, muito antes de o governo dos Estados Unidos começar a falar sobre a Venezuela.

Para resolver seu problema de combustível, o regime de Maduro está trabalhando em parceria com outra nação sob sanções. Apenas alguns dias atrás, o governo venezuelano “deu boas-vindas” a cinco navios iranianos que navegaram do outro lado do mundo apenas para trazer 1,5 milhão de barris de combustível ao país. Esta é uma aliança sinistra que os Estados Unidos inicialmente permitiram, mas que passaram a monitorar "com preocupação", de acordo com o chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, almirante Craig Faller.

A "preocupação" de Washington é justificada, porque o Irã não é conhecido por seu altruísmo geopolítico; o país geralmente tem um motivo oculto para tais ações. Uma hipótese é que Teerã tem planos de assumir o controle da indústria de petróleo da Venezuela, como já conquistou o controle de "El Palito", a maior refinaria do país. Isso se encaixaria na atual "liberalização" ao estilo soviético da Venezuela. Os russos e chineses já estão operando na indústria de petróleo venezuelana. Talvez Maduro tenha agora adicionado o Irã à mistura.

A remessa iraniana resolverá a crise de combustível da Venezuela? Claro que não. Os 1,5 milhão de barris de gasolina do Irã não durarão por muito tempo. Se a Venezuela mantiver seu atual sistema de racionamento, que apenas fornece gás a funcionários, médicos e indivíduos privilegiados, a carga será usada em 50 dias. Se o país tentar retornar ao status quo do pré-racionamento, distribuindo o combustível mais amplamente, ele durará cerca de duas semanas. Nos dois cenários, a escassez crônica de combustível na Venezuela continuará após um breve interlúdio, e a economia venezuelana permanecerá em coma.

As sanções financeiras dos Estados Unidos não são responsáveis ​​por esses problemas intratáveis. As sanções certamente dizimaram as finanças do regime venezuelano, mas não criaram essa bagunça. A Venezuela – com, novamente, as maiores reservas de petróleo da Terra – deveria ser capaz de produzir combustível suficiente, não apenas para si, mas também para exportação regional. Antes das sanções, durante o regime de Hugo Chávez que durou de 1998 a 2013, as receitas de petróleo do governo venezuelano ultrapassaram US$ 800 bilhões. Este é um influxo de capital espantoso para qualquer nação em desenvolvimento do tamanho da Venezuela. Deveríamos culpar os Estados Unidos pela má administração dessas receitas também?

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Não. Em vez disso, todos os caminhos levam a Nicolás Maduro, a elite corrupta que o sustenta, e ao sistema econômico socialista que ele herdou de Chávez e não fez nada para abandonar. Os venezuelanos estão agora pagando o preço de anos de corrupção em sua indústria de petróleo. A menos que eles encontrem uma maneira de alcançar mudanças políticas, o país continuará implodindo, sua crise migratória continuará desestabilizando a América Latina e seu povo, mais de 90% dos quais já vivem na pobreza, continuará a ver seu padrão de vida em declínio.

*Jorge Jraissati é presidente da Aliança Venezuelana e membro do Instituto Abigail Adams. Ele já palestrou sobre a crise venezuelana em várias universidades, incluindo Harvard, NYU e Cambridge.

©2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês