Paris A Venezuela "vai começar a desenvolver sua energia nuclear com fins pacíficos, como fazem Brasil e Argentina", declarou ontem o presidente venezuelano Hugo Chavez numa entrevista divulgada pelo canal de informação contínua France 24. Ao ser questionado sobre seu apoio ao Irã, Chavez afirmou que "no que se refere a mim, exijo respeito pelo Irã. Não acredito que o Irã fabrique a bomba atômica, mas desenvolve sua energia nuclear com objetivos pacíficos, estou certo", disse ele na entrevista.
Segundo o presidente venezuelano, o desenvolvimento do setor nuclear civil é "uma necessidade" também em "razão da poluição atmosférica, da mudança climática, e do fim do equilíbrio do planeta".
Logo após o anúncio de Chávez, dois congressistas americanos da Flórida disseram que Washington deveria se alarmar com os planos do presidente da Venezuela. Os representantes americanos Connie Mack e Ron Klein disseram-se em comunicado estarem preocupados em que o Irã se torne "um ávido parceiro" ao ajudar a Venezuela a desenvolver um programa nuclear.
Mack, um republicano, disse que a aproximação entre Chávez e o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, representa "uma aliança perigosa, e seu desejo de desenvolver tecnologia nuclear deveria alarmar os Estados Unidos e seus aliados na América Latina." Ele acrescentou: "É imperativo que nossos aliados em todo o mundo se unam para evitar que Chávez tenha acesso à tecnologia nuclear."
"Essa cooperação entre o Irã e a Venezuela está muito próxima da nossa casa," disse Klein, do Partido Democrata.
Para analistas, as "espetaculares" compras de armas pela Venezuela de Hugo Chávez não chegaram a criar uma "corrida armamentista" na América do Sul, mas criaram tensão no continente, concordaram especialistas em assuntos estratégicos durante conferência ontem no Rio. O problema "não é a compra das armas, mas sim a incerteza da política venezuelana", disse o brasileiro Alfredo Valladão, diretor da Cátedra Mercosul de Ciências Políticas, de Paris, na quarta edição da Conferência do Forte de Copacabana.
"Não há uma corrida armamentista do ponto de vista convencional", diz Clóvis Brigagão, diretor do Centro de Estudos das Américas, do Rio. Para isso seria preciso que dois ou mais países acompanhassem o ritmo das compras venezuelanas.