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Os ditadores do Irã, Ebrahim Raisí, e da Venezuela, Nicolás Maduro, em encontro em Caracas em junho do ano passado
Os ditadores do Irã, Ebrahim Raisí, e da Venezuela, Nicolás Maduro, em encontro em Caracas em junho do ano passado| Foto: EFE/Rayner Peña

Diante do ataque sem precedentes do Irã a Israel no fim de semana, a maioria dos governos de esquerda na América Latina divulgou comunicados sem criticar Teerã.

O governo Lula foi criticado por ter emitido uma nota pedindo “máxima contenção” no Oriente Médio, mas sem condenar explicitamente o Irã, que realizou o ataque em resposta a um bombardeio (atribuído a Israel) ao consulado iraniano na Síria que matou um importante líder militar do regime dos aiatolás.

A ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela também não condenou Teerã e ainda classificou o ataque iraniano no fim de semana como um “resultado do genocídio na Palestina e da irracionalidade do regime israelense, bem como da inação das Nações Unidas”.

Essa resposta aos eventos de sábado (13) é fácil de entender: muitos dos governos de esquerda latino-americanos têm laços com o Irã. O Brasil integra os Brics, que no ano passado aprovaram a entrada dos iranianos no bloco.

Entretanto, países vizinhos, incluindo as três ditaduras de esquerda da América Latina, têm relações ainda mais estreitas com Teerã, o que gera preocupações a respeito da segurança da região. Confira abaixo algumas dessas ligações:

Venezuela

As relações do chavismo com o grupo terrorista libanês Hezbollah, apoiado pelo Irã, já foram amplamente documentadas.

Um relatório de 2020 do think tank americano Atlantic Council destacou os laços de figuras importantes do chavismo, como o ex-chefe da contrainteligência militar venezuelana Hugo Carvajal Barrios, e o Hezbollah.

“A localização estratégica da Venezuela na América do Sul e na encruzilhada do Caribe dá ao Irã e ao Hezbollah a capacidade de diminuir sua desvantagem geográfica em relação aos Estados Unidos. Para esconder essa relação, [Hugo] Chávez e depois o regime de Maduro forneceram identidades duplas para oriundos do Oriente Médio, construindo uma rede clandestina que fornece inteligência, treinamento, dinheiro, armas, suprimentos e know-how para os regimes de Maduro e [do ditador sírio Bashar al-]Assad”, destacou o documento.

A parceria do chavismo com o Hezbollah se estenderia a guerrilhas colombianas envolvidas com o tráfico de drogas na região, destacou o Atlantic Council.

Entretanto, também há uma grande relação “direta” de Caracas com Teerã. Este ano, as Forças de Defesa de Israel (FDI) denunciaram que o Irã envia armas para a Venezuela por meio de rotas aéreas e marítimas, incluindo o drone Mohajer-6, que pode transportar até quatro mísseis ar-terra e que a ditadura de Maduro exibiu recentemente num desfile militar em Caracas.

As FDI também relataram que navios iranianos com mísseis foram identificados na costa noroeste da Venezuela. Em março, uma delegação do Irã esteve em Caracas para fazer um balanço da “relação bilateral” entre as duas ditaduras.

“Com a chegada da Revolução Bolivariana em 1999 [ano em que Hugo Chávez chegou ao poder], iniciou-se a construção de uma frutífera relação bilateral que se fortaleceu ao longo dos anos pela resistência patriótica de ambos os povos em defesa da sua soberania e autodeterminação, celebrando para esse fim diversos acordos nas áreas de petróleo, petroquímica, gás, assuntos científicos, tecnológicos, agrícolas, acadêmicos, comerciais e culturais”, informou o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela em nota.

Bolívia

Outro governo de esquerda com fortes laços com a teocracia iraniana é a Bolívia, relação iniciada no governo de Evo Morales (2006-2019) e que se mantém na gestão do seu ex-apadrinhado político (e atual desafeto) Luis Arce.

Em julho de 2023, o ministro da Defesa boliviano, Edmundo Novillo, esteve em Teerã e assinou com o governo da república islâmica um memorando de entendimento nas áreas de defesa e segurança.

Diante da repercussão e do mistério sobre o acordo, ele detalhou dias depois que La Paz estava interessada em drones de tecnologia avançada, que supostamente seriam usados nas fronteiras do país no combate ao narcotráfico e ao contrabando e na vigilância militar.

Entretanto, entidades judaicas na Argentina manifestaram preocupação com a possível utilização militar dessa tecnologia contra outros países.

Recentemente, o jornal argentino Clarín informou que o Mossad, serviço de inteligência de Israel, mudou recentemente sua sede regional do Chile para a Argentina e o foco das suas investigações tem sido as relações próximas da Bolívia com o Irã.

Cuba

Assim como a Venezuela, Havana busca se aproximar de Teerã para criar uma parceria que ajude as duas ditaduras a se fortalecer diante das sanções impostas pela comunidade internacional.

Em dezembro, o ditador de Cuba, Miguel Díaz-Canel, esteve no Irã e na ocasião os dois regimes assinaram sete memorandos de entendimento e documentos de cooperação em diversos setores, incluindo ciência e tecnologia, saúde, agricultura, energia e mineração, comunicações e medicina.

A relação entre os dois regimes vem desde a época de Fidel Castro – que disse que a parceria poderia deixar os Estados Unidos “de joelhos” – e os dois países integram a lista do governo americano de países patrocinadores do terrorismo.

No ano passado, as duas ditaduras falaram em formar uma coalizão para combater “os comportamentos coercitivos dos Estados Unidos e dos outros países ocidentais”.

Nicarágua

Contornar sanções também está na pauta da colaboração da ditadura de Daniel Ortega com os aiatolás, mas a parceria vai além disso.

No ano passado, o jornal americano The New York Times revelou que os dois países discutiram um reforço na cooperação militar durante uma reunião do ministro das Relações Exteriores iraniano, Hossein Amir Abdollahian, com oficiais superiores do Exército da Nicarágua.

“Esta aproximação é, até agora, a atitude mais frontal do regime para consolidar uma aliança militar com inimigos dos Estados Unidos. Não há assistência militar de qualquer relevância entre o Irã e a Nicarágua neste momento”, afirmou o líder oposicionista nicaraguense Félix Maradiaga, em entrevista ao site Confidencial.

Argentina

O governo libertário de Javier Milei condenou enfaticamente o ataque do Irã a Israel, postura que seus antecessores peronistas não adotavam.

No ano passado, a Justiça argentina reabriu um processo contra a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), devido a um suposto pacto que seu governo teria feito com o Irã para acobertar a participação de Teerã nos dois maiores ataques terroristas da história do país sul-americano: um atentado em Buenos Aires que matou 85 pessoas em 1994, na sede da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), e o ataque à Embaixada de Israel dois anos antes, que havia deixado 29 mortos.

Um promotor que investigava o caso Amia e denunciou Kirchner, Alberto Nisman, foi encontrado morto na sua casa em janeiro de 2015.

Na semana passada, a Sala II do Tribunal Federal de Cassação Criminal atribuiu ao Irã a responsabilidade pelos dois atentados, concluindo que foram praticados pelo Hezbollah “sob a inspiração, organização, planejamento e financiamento de organizações estatais e paraestatais subordinadas” ao Irã.

A decisão abre caminho para que Estados e parentes das vítimas processem Teerã em cortes internacionais.

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