O embaixador da Venezuela na Colômbia, Gustavo Márquez, disse nesta quinta-feira (30) que Bogotá busca justificar uma "intervenção" na Venezuela, com o incidente das armas de fabricação sueca, que pertenceriam ao Exército da Venezuela e foram encontradas em um acampamento da guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O incidente ameaça interromper o comércio entre os dois países, que movimenta US$ 7,2 bilhões por ano. Márquez ligou o incidente ao fato do Congresso da Colômbia discutir a permissão para que militares dos Estados Unidos usem cinco bases das forças armadas da Colômbia em território colombiano.
Márquez negou mais cedo que o governo colombiano tenha informado com antecipação as autoridades venezuelanas sobre os lançadores de foguetes que foram apreendidos em poder das Farc.
Márquez desmentiu a declaração feita pelo governo colombiano na véspera, de que a Venezuela foi notificada sobre a apreensão dos armamentos em junho. Os armamentos pertenciam ao Exército da Venezuela. Márquez afirmou que "nunca fui chamado" pelas autoridades colombianas em Bogotá para discutir o caso.
O governo da Suécia, no entanto, informou nesta quinta-feira que pediu explicações à Venezuela sobre como armamentos exportados para o país sul-americano foram parar nas mãos das Farc. A ministra do Comércio da Suécia, Ewa Bjorling, disse que a Suécia pediu uma explicação formal ao principal diplomata venezuelano em Estocolmo. Ela disse ainda não ter recebido qualquer resposta da Venezuela, mas afirmou que seu governo tem "bons contatos" com a Colômbia a respeito do incidente. Os lançadores de foguetes antitanques foram vendidos pela Suécia à Venezuela no final da década de 1980.
Um comunicado da chancelaria venezuelana respondeu aos comentários que o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, proferiu na véspera sobre o caso, e advertiu que "cada agressão do governo colombiano será respondida com medidas muito firmes".
"Então se trata de abrir uma investigação para descobrir se essas armas estavam mesmo lá, se elas são venezuelanas, se os números de série correspondem ou não", disse Márquez em entrevista à Venezolana de Televisión (VTV), ao dizer que a Colômbia divulgou as informações sobre as armas sem antes verificá-las.
O embaixador disse que a Colômbia atuou com "grande irresponsabilidade para esfriar a relação" entre os dois países e que "a Colômbia praticamente nos lançou essa bomba e nos colocou uma pistola na cabeça". Márquez disse que com o caso se procura fazer "uma campanha internacional que pretende justificar uma intervenção na Venezuela, que é a mesma tática que estava por trás da invasão do Iraque".
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, decidiu congelar a relação com a Colômbia e retirar o embaixador Márquez e o pessoal diplomático mais graduado de Bogotá, em protesto às denúncias da Colômbia de que lançadores de foguetes AT-4, de fabricação sueca, foram comprados pela Venezuela mas acabaram nas mãos das Farc. Os postos de fronteira não foram fechados, mas a Venezuela já disse que irá "reavaliar" sua relação comercial com a Colômbia.
Márquez também criticou o acordo militar que a Colômbia discute com os Estados Unidos para que militares norte-americanos usem cinco bases em território colombiano. Segundo ele, se o acordo for fechado, isso "criaria as condições para que as relações entre os dois países (EUA e Colômbia) não sejam mais entre iguais".
"O governo colombiano, fugindo das próprias responsabilidades, quer justificar a instalação em seu território de até cinco bases militares da principal potência bélica do mundo, alegando que três lançadores de foguetes supostamente de propriedade do exército venezuelano chagaram às mãos de um grupo irregular", indicou a chancelaria venezuelana.
O comunicado é duro e sugere que "se a oligarquia colombiana" tomou "a desonrosa decisão de entregar o país aos EUA, deveria assumi-la com claridade frente ao povo colombiano e não se esconder atrás de pretextos absurdos".
Segundo o governo da Venezuela, o objetivo da Colômbia é transformar toda a América do Sul em "uma área de violência".
A Colômbia poderá permitir que as forças armadas norte-americanas usem três bases aéreas e duas navais em seu território. As autoridades colombianas dizem que a Venezuela não precisa se preocupar e que a quantidade de militares dos EUA na Colômbia não superará 1,4 mil soldados, fixada pelo Congresso americano. As informações são da Associated Press.
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