O prédio da Assembleia Nacional da Venezuela foi cenário de uma batalha nesta terça-feira (7). Policiais da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) e outras forças de segurança fiéis ao ditador Nicolás Maduro impediam, desde domingo, que o presidente do Parlamento, Juan Guaidó, e outros políticos opositores ao chavismo entrassem no local para participar da votação para a nova mesa diretora.
Apesar do bloqueio policial, Guaidó e dezenas de deputados que o apoiam conseguiram abrir uma porta de acesso aos empurrões e entrar na Assembleia Nacional pouco antes das 11 horas da manhã, no momento em que o deputado Luis Parra presidia uma sessão parlamentar.
Parra foi proclamado presidente da AN por deputados chavistas no domingo, em uma eleição denunciada como "golpe parlamentar" pela oposição, já que os deputados ligados a Guaidó foram impedidos de participar da sessão, que não teve o quórum exigido de 84 parlamentares.
Segundo a oposição, mais de cem deputados estavam no grupo de Guaidó. Os deputados chavistas que participavam da sessão liderada por Parra deixaram o plenário antes da chegada dos opositores ao local.
"Foi uma façanha" entrar no plenário, disse Guaidó da tribuna ao iniciar a sessão parlamentar, que foi realizada às escuras porque a luz foi cortada antes do início dos debates.
Por volta de 11:45, Guaidó prestou juramento para presidir seu segundo período à frente do Parlamento. Em seguida, a sessão foi finalizada.
"Hoje, os deputados da Assembleia Nacional, eleitos pelo voto do povo, derrotamos a vontade de um golpe legislativo orquestrado pela ditadura e seus cúmplices. Aqueles que pretendiam usurpar durante algumas horas a Mesa Diretora da Assembleia fugiram como covardes que são", tuitou Guaidó.
A imprensa local relatou casos de agressão por coletivos chavistas a jornalistas e cidadãos que protestavam contra Maduro nos arredores da Assembleia.
Guaidó disse esperar reação do governo de Maduro depois do que chamou de "derrota política" e disse que para enfrentar o presidente venezuelano "é necessário estarmos unidos e mobilizados como hoje".
Apoio da Rússia
O apoio do Kremlin ao chavismo tem sido determinante para a continuidade do regime, e a Rússia tem aumentado a sua presença e operações militares no território venezuelano. Em entrevista à Bloomberg em 31 de dezembro, o vice-ministro das Finanças da Rússia, Sergey Storchak, disse que o seu país está pronto para aumentar o seu envolvimento com a Venezuela e enviar assessores para orientar o governo em diversas áreas - incluindo economia, políticas sociais e setor de petróleo.
Mas a condição para o envio dessa ajuda seria a saída de Guaidó do Parlamento, indicou Storchak em sua entrevista. O vice-ministro, que lidera uma equipe de 12 pessoas com foco na Venezuela, disse que os esforços da Rússia para ajudar a aliviar a crise do país latino-americano não têm tido sucesso porque autoridades em Caracas não concordaram em implementar as mudanças sem o apoio do parlamento liderado por Guaidó.
Argentina retira credenciais de representante de Guaidó
O governo da Argentina decidiu retirar nesta terça-feira as credenciais da embaixadora Elisa Trotta Gamus, que representava o governo interino de Guaidó em Buenos Aires. Assim, o presidente Alberto Fernández ratificou sua decisão de reconhecer Nicolás Maduro como único presidente da Venezuela.
"Escrevo para a senhora com o objetivo de informar que, a partir desta data, sua missão especial na República Argentina e suas funções dentro da estrutura estão encerradas", informa a nota assinada por Mariángeles Bellusci, vice-diretora do Cerimonial do Ministério das Relações Exteriores, segundo a imprensa argentina.
O ex-presidente argentino Mauricio Macri havia reconhecido Trotta como representante diplomática da Venezuela no país no ano passado.
Em dezembro, antes do início do governo de Fernández, o chanceler Felipe Solá havia classificado como "ilegal" a representação diplomática de Trotta.
A decisão foi tomada após o Ministério das Relações Exteriores da Argentina ter repudiado os eventos de domingo na Venezuela, quando deputados foram impedidos de entrar no Parlamento.
"O governo argentino lamenta profundamente os episódios registrados nesta data na República Bolivariana da Venezuela. São inaceitáveis para a coexistência democrática os atos de assédio sofridos por deputados, jornalistas e membros do corpo diplomático ao tentar entrar nas instalações da Assembleia Nacional, eleger as novas autoridades de sua mesa diretora", afirmou o texto.
Embora a retomada do controle da Assembleia Nacional tenha sido uma vitória da oposição, analistas não têm expectativa de que a AN funcione como um parlamento real em 2020. No ano anterior, a AN - o único órgão venezuelano considerado legítimo por grande parte da comunidade internacional - só foi capaz de aprovar leis que não podiam ser aplicadas. Eleições legislativas devem acontecer em dezembro.
Conteúdo editado por: Helen Mendes