Curitiba – O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, vem surpreendendo as Américas com suas declarações. O ex-preso político que chegou ao poder em 1998 afirma que sua intenção é colocar o socialismo em prática e não apenas alimentar confrontos retóricos com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. A aliança com o líder cubano Fidel Castro e a disposição para integrar o Mercado Comum do Sul (Mercosul) ainda neste ano fazem parte desse plano. Chávez declara ser um "revolucionário" cuja missão é oferecer a toda a América uma alternativa político-econômica.

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Para analistas brasileiros, no entanto, a Venezuela precisa ganhar força e influência econômica para se tornar uma alternativa aos países que orbitam a economia norte-americana. "Alternativa se cria quando se tem poder. Hoje o que existe são apenas críticas", afirma o especialista em Relações Internacionais Clóvis Brigagão, diretor do Centro de Estudos das Américas da Universidade Candido Mendes, do Rio de Janeiro.

O petróleo financia os planos de Chávez, beneficiado pela crise energética. A Venezuela é a única economia das Américas que sai ganhando quando os preços do produto sobem. O país detém 71% das reservas de petróleo da América Latina ou 7% das reservas mundiais. Politicamente, Chávez parece cada vez melhor. As últimas pesquisas mostram que ele tem aprovação de dois terços dos venezuelanos.

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Para Brigagão, isso não é o suficiente. Ele considera que, apesar de os EUA darem pouca atenção aos vizinhos, a força da economia venezuelana ainda é muito menor. Com as petroleiras concentradas no sul, o país registrou desemprego de mais de 20% nos últimos anos. Outro problema que demonstra a fragilidade da economia interna é a inflação, que passa de 30% ao ano.

Apesar das limitações de sua influência, Chávez vai atrair as atenções durante a Cúpula das Américas, no próximo fim de semana, em Mar del Plata (Argentina), acredita o estrategista Geraldo Cavagnari, fundador e membro do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp. A presença do presidente dos EUA garante oposição às propostas do líder bolivariano no encontro de 34 chefes de Estado, que deve definir formas de geração de trabalho nas Américas.

Para Cavagnari, a Venezuela tem consciência de seu potencial e, ao distribuir petróleo barato para Cuba e países do Caribe, tenta atrapalhar a política norte-americana na região. "Caracas não é um perigo para os EUA", afirma. Além disso, ele analisa que os países americanos não definem seu destino simplesmente optando por uma ou outra alternativa. O especialista acredita que o Brasil, por exemplo, deve se aproximar da Venezuela enquanto possuir interesse econômico nos acordos que vêm sendo firmados.