Em meio à profunda crise econômica da Venezuela, 94,5% da população do país vivem em situação de pobreza, e mais de três em cada quatro venezuelanos sofrem com a extrema pobreza, com renda insuficiente para garantir as suas necessidades alimentares. As conclusões são da Pesquisa Nacional de Condições de Vida 2021, realizada pela Universidade Católica Andrés Bello (UCAB), publicada na quarta-feira (29).
Segundo os resultados, a extrema pobreza atinge agora 76,6% dos venezuelanos, um aumento em relação aos 67,7% registrados no ano anterior.
"O empobrecimento tem sido dramático", afirmou o economista venezuelano Pedro Palma, ao comparar os resultados do último levantamento aos dados de nove anos atrás. "Em 2012 (ao fim da bonança petroleira), a pobreza estava em 32,6% e a extrema pobreza em 9,3%."
Crise econômica, perda de institucionalidade, pandemia de Covid-19 e a escassez crônica de combustíveis foram apontadas como os principais fatores para o empobrecimento dos venezuelanos. Cerca de 20% dos entrevistados afirmaram que não conseguiam abastecer os seus carros, o que prejudica a suas atividades profissionais.
Os números da pesquisa diferem daqueles apresentados pela ditadura de Nicolás Maduro, que em sua prestação de contas ao parlamento afirmou que 17% dos venezuelanos viviam na pobreza em 2020, e apenas 4% em pobreza extrema.
Segundo os pesquisadores da UCAB, a população da Venezuela foi reduzida para 28,7 milhões, depois que pouco mais de 4 milhões de pessoas deixaram o país entre 2015 e 2020, fugindo da crise econômica e social. Além disso, a taxa de natalidade diminuiu, porque "as potenciais mães migraram". Estima-se que 340 mil crianças deixaram de nascer nos últimos cinco anos no país.
Houve também perda de três anos de expectativa de vida. "As gerações nascidas no período de crise (2015-2020) irão viver menos anos do que os que nasceram antes (2000-2005). Antes da crise, estimava-se uma expectativa de vida de 83 anos para 2050, agora o número baixou para 76,6.
A taxa de mortalidade infantil no país, que chega a 25,7 para cada 1.000 nascidos vivos, é a mesma de 30 anos atrás.
Apenas cerca da metade dos venezuelanos em idade de trabalhar está em atividade, o que corresponde a cerca de 7,6 milhões de pessoas, estima a pesquisa. Para as mulheres, a situação é ainda pior: apenas 32,9% das trabalhadoras estão em atividade, um índice muito inferior à média da América Latina.
As medidas de combate à pandemia da Covid-19, com restrições à circulação, somadas à falta de combustível na nação que já foi um gigante petrolífero, levaram à paralisação de parte do setor produtivo, reforçando a recessão no país.
Diante do colapso das condições de vida, 86,5% dos domicílios recebem ajudas governamentais, enquanto 20% recebem remessas de familiares no estrangeiro.
A pesquisa foi conduzida com a aplicação de questionários distribuídos a 17 mil domicílios em 22 dos 24 estados da Venezuela entre fevereiro e abril de 2021.
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