Manifestantes protestam contra o governo do ditador Nicolás Maduro, em ato convocado pela oposição, em Caracas, 30 de janeiro| Foto:  JUAN BARRETO / AFP

A Venezuela teve um novo dia de protestos contra o regime do ditador Nicolás Maduro. O líder da oposição e presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, convocou os seus apoiadores para um ato pacífico nesta quarta-feira (30). Durante duas horas, as pessoas foram para as ruas para exigir a saída de Maduro e apoiar a decisão da Assembleia Nacional de formar um governo de transição e promover eleições livres.

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Os venezuelanos se reuniram em grupos de resistência nas principais ruas por todo o país e também em frente a bases militares. A população pede que a Força Armada Nacional Bolivariana retire o apoio a Maduro e fique ao lado da Constituição.

Representantes diplomáticos do governo interino de Guaidó nos Estados Unidos disseram, nesta quarta, que estão convencidos de que mais de 99% dos integrantes das Forças Armadas se opõem ao regime de Maduro, mas se encontram “sequestrados” como os resto das instituições do país.

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Juan Guaidó, que tem o apoio de grande parte da comunidade internacional, foi recebido com aplausos no protesto em frente ao Hospital Universitário de Caracas.

“Vamos continuar protestando”, ele disse à multidão de estudantes, médicos e enfermeiros. “Vamos continuar tomando as ruas”.

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O regime de Maduro tentou neutralizar Guaidó com uma ordem que o impede de sair do país e congela as suas contas. O regime também tem respondido ao desafio da oposição com repressão em bairros rebeldes, para tentar preservar o sistema socialista autocrático que enfrenta cada vez mais impopularidade e pressão internacional.

Guaidó pareceu não se intimidar por essas ordens. “Neste momento, não estou preocupado com a proibição de deixar o país. O que me preocupa é se venezuelanos vão poder voltar para o país”, disse a jornalistas que cobriam a manifestação.

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“Temos o apoio de Trump e de muitos líderes europeus. Estou disposto a fazer o que for preciso para que a ajuda humanitária possa entrar”, afirmou.

A repressão do regime nos últimos dias pode ter desencorajado uma participação mais ampla dos protestos, que foram menores nesta quarta-feira do que a mobilização do dia 23 de janeiro.

Na última semana, forças de segurança do regime chavista prenderam 850 pessoas, incluindo 77 menores de idade. Pelo menos 40 pessoas morreram nesse período, a maioria assassinada pelas forças do governo, segundo a ONU.

É comum que as forças de segurança usem gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar os manifestantes. Isso não aconteceu nesta quarta, alguns analistas acreditam que isso indica uma abordagem mais cautelosa de Maduro.

Membros da Polícia Nacional Bolivariana fazem guarda perto do Hospital José Manuel de los Rios, em Caracas, durante a manifestação 
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Em Caracas, onde o fornecimento de alimentos, remédios e energia elétrica encolheu nos últimos anos, os moradores expressaram frustração com o governo, mas alguns foram cautelosos em participar de protestos por causa da possível violência. 

Do lado de fora do Hospital José Manuel de los Rios, no noroeste de Caracas, cerca de 100 funcionários foram para a rua, cantando e agitando cartazes, enquanto dezenas de policiais olhavam. 

"Estou aqui porque estou em um hospital onde meus pacientes estão morrendo", disse Haberlyn Mejia, radiologista de 26 anos. "Espero que haja uma mudança profunda no meu país, precisamos disso urgentemente." 

A multidão gritava: "Famílias e pacientes, as pessoas estão presentes". 

Na área comercial de La Candelaria, dezenas de manifestantes se reuniram na rua e pediram a outros que participassem. "Pessoas, escutem, juntem-se a essa luta", gritaram, segurando cartazes que diziam "Ajuda humanitária agora". Maduro rejeitou a maioria das ofertas internacionais de alimentos e assistência médica. 

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Rafael Tafuro, 65 anos, um carpinteiro que estava esperando o metrô no leste de Caracas na manhã de quarta-feira, disse que "é claro" que ele participaria das manifestações. 

"Você acha que o que estamos vivendo não é suficiente?", disse. "Eu protesto por causa de tudo. Eu não tenho um trabalho há um ano. Sou carpinteiro. Os materiais são muito caros e ninguém tem dinheiro para pagar pelos meus serviços." 

Mas Lasmick Valverde, um estudante de contabilidade de 19 anos, disse que não participaria das manifestações. "Eu tenho muito medo de que algo aconteça comigo", disse ele. "Eu apoio o que eles estão fazendo, mas eu não gosto de protestos."

Um novo ato está programado para o próximo sábado, 2 de fevereiro, a data final dada pela União Europeia para que Nicolás Maduro convoque eleições democráticas.

Juan Guaidó marcha ao lado de estudantes que se reuniram do lado de fora da Universidade Central da Venezuela 
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Apoio internacional

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, telefonou para Guaidó nesta quarta para parabenizá-lo pelo que classificou como uma posse histórica e para reiterar o apoio do governo americano à oposição venezuelana.

Em comunicado, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, disse que Trump "falou hoje com o presidente venezuelano interino, Juan Guaidó, para parabenizá-lo por sua histórica ascensão à Presidência e para reforçar o forte apoio do presidente Trump à luta da Venezuela para recuperar sua democracia". 

Na ligação, afirmou Sanders, Guaidó ressaltou "a importância dos grandes protestos na Venezuela contra o ex-ditador [Nicolás] Maduro, marcados para acontecer hoje [quarta-feira] e sábado." 

Em uma rede social, o opositor venezuelano agradeceu a ligação de Trump e afirmou que o americano "reiterou seu completo apoio à nossa luta democrática, o compromisso com a ajuda humanitária e o reconhecimento de sua administração à nossa Presidência." 

Também nesta quarta, Trump advertiu os cidadãos americanos contra viajar para a Venezuela em meio à crise política no país. 

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"Maduro disposto a negociar com a oposição na Venezuela após as sanções dos EUA e o corte de receitas de petróleo. Guaidó se tornou alvo da Suprema Corte venezuelana. Protestos em massa esperados para hoje. Os americanos não deveriam viajar à Venezuela até depois de novas notícias", escreveu o presidente em uma rede social.

Perseguição à imprensa

A perseguição à imprensa estrangeira na Venezuela se intensificou nos últimos dias. 

Depois da retenção, por algumas horas, do repórter brasileiro Rodrigo Lopes, do jornal Zero Hora, que teve de deixar o país, agora foram reportadas detenções de dois chilenos e dois franceses. 

Na noite desta terça-feira (29), Rodrigo Pérez e Gonzalo Barahona foram presos e passaram a noite detidos, no mesmo local em que Lopes havia sido preso, numa estação policial em frente ao Palácio de Miraflores, sede do governo venezuelano. 

Os chilenos pertencem a Televisão Nacional do Chile, que emitiu um comunicado: "A emissora manifesta seu profundo pesar e preocupação pela detenção de nossa equipe". 

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Ambos foram liberados apenas na manhã desta quarta-feira (30), tendo passado 12 horas presos. Junto a eles, foram detidos dois repórteres venezuelanos, Maikel Iriarte da TV Venezuela, e Ana Rodriguez, do VPI, canais digitais que veiculam os atos da oposição. 

Durante uma semana na Venezuela, a reportagem não viu o nome de Juan Guaidó e nenhum dos acontecimentos políticos recentes na cobertura das emissoras de TV e de rádio regulares (abertas ou a cabo). 

A única maneira de seguir esses acontecimentos é por meios estrangeiros que logram driblar a censura ou por canais como o VPI, que aparentemente agora terão a vida mais complicada.

Com informações da Folhapress e do Washington Post.