• Carregando...

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela aceitou auditar 100% da votação em sistema eletrônico do país, atendendo o pedido da oposição e após uma semana de tensão provocada pela vitória apertada do governista Nicolás Maduro na eleição presidencial de domingo (14).

Depois de mais de nove horas de reunião, a presidente do CNE, Tibisay Lucena, anunciou a decisão, precisando que passarão pela revisão 46% das urnas, já que 54% já foram auditadas no procedimento padrão realizado depois de cada votação.

Trata-se de uma vitória para o oposicionista Henrique Capriles, que anunciou no domingo que só reconheceria o triunfo de Maduro por uma diferença de menos de 1,7% dos votos se houvesse a auditoria - que ele chamou de "recontagem", termo rejeitado pelo CNE.

Na Venezuela, o sistema é eletrônico como no Brasil, mas lá cada voto eletrônico gera um comprovante em papel que o eleitor deposita numa espécie de urna convencional, chamada "caixa de resguardo".

Ao final da votação, as atas eletrônicas podem ser conferidas, na presença de fiscais dos partidos ou coalizões, com o resultado de urnas convencionais escolhidas por sorteio.

É esse o procedimento que agora vai ser estendido para 100% dos votos.

Na segunda, Lucena rejeitou a possibilidade de atender aos oposicionistas, mas, na terça-feira, recebeu o pedido de Capriles.

Maduro, que no discurso de vitória no domingo disse aceitar a recontagem, voltou atrás no dia seguinte. Na quinta-feira, deixou o caminho aberto para aceitar a auditoria dizendo que aceitaria qualquer decisão do CNE, cuja cúpula é de maioria de chavista.

A natureza da grande parte das denúncias de Capriles - menos inconsistências numéricas e mais casos de votação condicionada pelo governismo por violência ou coação de eleitores -, apontavam que dificilmente uma auditoria poderia modificar a vitória de Maduro.

Em tese, o procedimento não deve impedir a posse de Maduro, prevista para esta sábado (20).

A presidente Dilma Rousseff deve estar presente. A auditoria deve durar um mês, segundo o CNE.

Tensão

Além da Justiça e do Ministério Público, a pressão sobre a oposição na Venezuela chegou agora ao Legislativo. O presidente da Assembleia Nacional, o chavista Diosdado Cabello, decidiu vetar a palavra a deputados opositores e os destituiu da direção de comissões parlamentares.

A oposição, liderada por Henrique Capriles, pede uma recontagem dos votos após a derrota apertada para Nicolás Maduro na eleição presidencial do último domingo.

Em reação, a bancada da coalizão opositora MUD (Mesa da Unidade) anunciou que não assistirá à posse de Maduro amanhã. A oposição detém 41% das cadeiras da Casa (68 dos seus 165 deputados).

Cabello resolveu destituí-los em represália ao pedido de auditoria de 100% dos votos na eleição vencida por Maduro (50,75%, ante 48,97% de Capriles). O regimento lhe confere essa prerrogativa.

"Enquanto eu presidir a Assembleia e vocês não reconhecerem Nicolás, não os reconheço e não terão direito à palavra. Saiam daqui, se quiserem. Vão falar na Globovisión", provocou Cabello, citando TV crítica ao chavismo.

Foi mais um dos movimentos chavistas contra a oposição liderada por Capriles, governador de Miranda, que se negou a reconhecer a vitória de Maduro até que o Conselho Nacional Eleitoral faça a auditoria total da votação.

Maduro, escolhido como herdeiro por Chávez antes de morrer, tem subido o tom do discurso e as ações desde domingo e acusado os oposicionistas de tentar um golpe de Estado. Por duas vezes exigiu, na TV, que emissoras privadas escolham de que lado estão.

A Justiça e o Ministério Público, alinhados ao chavismo, culpzaram Capriles por oito mortes que, segundo o governo, foram causadas nesta semana por partidários da oposição. Opositores questionam as circunstâncias das mortes.O chavismo também ameaça pedir "ausência" de Capriles do cargo de governador.

Após a cerimônia de posse na Assembleia, Maduro, que assume o poder para governar o país até 2019, liderará desfile "cívico-militar", num momento em que precisa enviar mensagem de controle sobre as Forças Armadas.

Apesar do respaldo na região, o presidente eleito inicia o governo fragilizado, inclusive dentro do chavismo, pela magra vitória eleitoral e tendo de lidar com a crise.

"Não serei um presidente fraco, mas de mão dura contra o golpismo, a ineficiência, a corrupção", disse Maduro em cadeia nacional obrigatória de rádio e TV.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]