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Acostumado a trucidar a oposição nas urnas, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de repente enfrenta um novo adversário no referendo de dezembro, destinado a permitir sua reeleição indefinidamente - antigos aliados, rompidos com o governo bolivariano.

Um partido, um respeitado ex-ministro de Defesa, governadores e um influente parlamentar abandonaram a coalizão socialista de Chávez, reforçando as críticas da oposição de que a reforma constitucional proposta por ele é autoritária.

Esses rompimentos refletem questionamentos da base popular de apoio ao presidente, que ainda apóia os programas sociais bancados pelo petróleo do governo, mas não vê com agrado o excesso de poderes nas mãos do presidente.

"Vimos se desenvolver o chamado 'pensamento de grupo'. Em outras palavras: se você não gosta de mim, você é um traidor, você está com a CIA, você é um golpista", disse Ismael García, do partido Podemos, que rompeu com o governo por causa da reforma.

As pesquisas indicam vitória do "sim" às reformas, mas em grande parte devido ao boicote da oposição às urnas, à popularidade do presidente e a "iscas" existentes no pacote, como a redução da jornada de trabalho e a ampliação de benefícios sociais.

A contrapartida é a autorização para que Chávez dispute quantas reeleições quiser, controle as reservas financeiras em divisas estrangeiras e limite as liberdades constitucionais em caso de "emergência".

São reformas que desagradam aos partidos de oposição, a grupos universitários, entidades da sociedade civil, Igreja e, segundo as pesquisas, a maioria dos venezuelanos.

O movimento estudantil que se mobilizou em maio contra o fechamento do canal RCTV voltou a se manifestar contra as reformas, organizando passeatas e suplantando os partidos tradicionais.

O ex-ministro de Defesa Raúl Isaías Baduel, confidente de Chávez e seu salvador durante a tentativa de golpe militar de 2002, qualificou neste mês a reforma constitucional como golpe.

Chávez, por sua vez, o chamou de traidor e disse que se sentia num ninho de escorpiões.

O parlamentar Luis Tascon foi outra baixa. Antes um militante entusiasmado -chegou a organizar uma lista-negra com milhões de eleitores anti-Chávez, o que segundo alguns foi usado para demitir funcionários públicos-, ele foi afastado do partido do governo após dizer que seria "realmente estúpido" negar que as críticas de Baduel expunham divisões e prejudicavam o governo.

"Temos de ver como estamos usando o poder", disse ele.

Essa proposta de reflexão foi dissonante num país onde, segundo analistas, o culto à personalidade de Chávez faz seus admiradores seguirem cegamente "El Comandante".

Um deputado chavista disse sob anonimato, para não atrair represálias, que "alguns parlamentares podem ser contra algumas das políticas ou declarações do presidente, mas há medo, terror de ser considerado traidor, um traidor da revolução".

Chávez deve obter mais uma vitória eleitoral, mas desta vez ela virá com um custo político. "Pela primeira vez, o governo vai sentir como uma derrota", afirmou García.

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