Abrigo em Boa Vista recebe venezuelanos vindos de Pacaraima| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Há duas semanas, a governadora de Roraima, Suely Campos (PP), foi a Caracas para uma reunião com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. De volta a Boa Vista, ela anunciou que havia fechado um acordo para ajudar Maduro no programa "Regresso à Pátria", que visa repatriar venezuelanos que fugiram de seu país natal e, de quebra, melhorar a imagem do regime. Em Boa Vista, porém, muitos que aderiram ao programa dizem que usarão a viagem de volta para rever a família e depois voltar ao Brasil.

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Richard de Jesus Cardoso, de 24 anos, disse que chegou há um ano ao Brasil. Saiu de El Tigre, no Estado de Anzoátegui, em busca de melhores condições de vida e deixou a mulher grávida. Em Roraima, trabalha vendendo e descarregando melancias na Feira do Produtor, ganhando R$ 20 por dia. 

A renda nunca foi suficiente para se sustentar nem para visitar a família. Agora, ele vai aproveitar o programa de Maduro para ver a filha que nasceu e visitar os parentes. Depois, pretende voltar, arranjar um emprego melhor – quem sabe até trazer a família. "Vou conhecer a minha filha, depois eu volto", afirmou.

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Iuri Mendes, venezuelana de 38 anos que está no Brasil há sete meses, vai retornar pelo mesmo motivo: para ver o filho que está na Venezuela com a mãe. "Quero voltar para casa para estar com meu filho, mas não sei se vou ficar. Quero voltar ao Brasil. Sei que a Venezuela ainda não está dando possibilidades de emprego e comida", afirmou. 

A mesma coisa disse Marisol López, de 28 anos. "Também vou, pois quero ver minha família, mas voltarei assim que possível".

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O programa "Regresso à Pátria" foi criado em agosto. Mas, segundo imigrantes que não quiseram se identificar, a volta não é fácil. Os ônibus que levam os imigrantes de Boa Vista são direcionados até a Guarda Nacional; de lá, eles são enviados para as cidades onde vivem. A ajuda termina aí. 

Com isso, a maioria teme sair de uma situação ruim para voltar a passar fome na Venezuela. Outro problema é que muitos temem represálias. Um deles relata:

"Os que chegam são obrigados a jurar a bandeira e prometer que não sairão mais, sob a pena de ter seus carnês da pátria tomados".

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A situação na fronteira continua tensa. Todos os dias, mais de 800 venezuelanos entram em Roraima, que já recebeu, segundo a Polícia Federal, mais de 72 mil pedidos de refúgio. 

Apesar de a governadora ter se comprometido a ajudar Maduro fornecendo transporte até a fronteira, o acordo não teria sido formalizado. Em ofício ao Ministério Público Federal, o governo de Roraima explicou que o apoio foi oferecido de forma informal, porque estabelecer relações com outros países é prerrogativa do governo federal. "O que o MP perguntou é se houve a formalização. A resposta é não", informou secretário-chefe da Casa Civil de Roraima, Frederico Linhares.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.