Depois de ter dado prioridade à vacinação de políticos chavistas contra a Covid-19, a ditadura de Nicolás Maduro está supostamente privilegiando a imunização de venezuelanos que tenham o famigerado “carnê da pátria”, um documento de identificação criado em 2016 pelo regime que, segundo a oposição, é usado como uma ferramenta de controle social.
Com a chegada de mais 500 mil vacinas Sputnik V à Venezuela, o governo chavista iniciou neste fim de semana a vacinação de idosos com duas ou mais comorbidades. O ministro da saúde, Carlos Alvarado, disse que o sistema estatal seria usado para organizar o agendamento e a convocação para aplicação da vacina. Há um outro caminho para aqueles que não estejam cadastrados no sistema Pátria ou não queiram aderir ao carnê. Elas podem realizar um registro no site do Ministério da Saúde, informando nome, endereço, telefone, e-mail, profissão e doenças.
Contudo, no primeiro dia de vacinação, ficou claro quem tinha prioridade. Em um vídeo compartilhado nas redes sociais, uma funcionária do regime aparece dizendo a pessoas que estavam esperando em longas filas em um centro de vacinação de Caracas que, devido ao grande número de pessoas que se dirigiram ao centro de vacinação, “estamos priorizando o pessoal que recebeu a mensagem [de texto no celular] por meio do cartão da Pátria”.
“Como qualificar os cúmplices do regime que brincam com a vida e a saúde dos venezuelanos? Eles zombam de nossos adultos mais velhos, ressaltando que apenas aqueles que têm 'carnê da Pátria' têm prioridade para se vacinar”, disse a opositora Delsa Solórzano, eleita deputada em 2015.
Além disso, há relatos de falhas no site do Ministério da Saúde dedicado ao registro de pessoas que não estão no sistema Pátria. De acordo com o jornal Efecto Cocuyo, é um sistema simples, mas que demora para carregar e acaba gerando erros, sendo necessário repetir a operação diversas vezes para que se consiga completar o cadastro.
A ditadura chavista disse que aceleraria a vacinação contra a Covid-19 a partir deste fim de semana. Contudo, nem os profissionais de saúde estão completamente imunizados. Uma pesquisa da ONG Médicos Unidos da Venezuela, feita com quase três mil médicos, apontou que apenas 42% dos profissionais da área receberam uma dose da vacina contra Covid-19.
“Estamos muito preocupados com esses resultados em meio a uma alta mortalidade de profissionais de saúde e a ausência de um plano de vacinação claro e transparente que considere e priorize os mais vulneráveis e por faixa etária”, disse a ONG nesta segunda-feira.
O que é o carnê da Pátria?
É um documento de identidade usado por 22 milhões de cidadãos venezuelanos para acessar serviços sociais do governo e diversos outros benefícios. Ele funciona como as “libretas de racionamiento” que eram usadas em Cuba. Sem ele, os venezuelanos não podem acessar serviços de saúde, estudar em universidades públicas ou obter os tão necessários alimentos subsidiados, que são oferecidos nos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP), em uma cesta que contém itens básicos como arroz, feijão, farinha e óleo.
Como a maioria dos Venezuelanos precisa se registrar nesse sistema, ele oferece um meio eficaz de controlar a população mais pobre e de garantir a sua obediência por meio de ameaças e de coerção.