| Foto: FEDERICO PARRA/AFP

Na Venezuela, o salário mínimo é de 15.051 bolívares, e com um subsídio do governo para quase todos os trabalhadores chega a quase 18.600 bolívares, um valor que, não importa como seja gasto, dificilmente é suficiente.

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Sob a rígida taxa de câmbio oficial decretada pelo governo – de 10 bolívares por dólar – o salário mensal equivale teoricamente a US$ 1.500. Mas esta taxa está reservada à importação de produtos básicos, como alimentos e remédios essenciais.

Existe outra taxa flutuante chamada DICOM, aplicada às compras com cartões de crédito internacionais, por exemplo. Ela alcança 452,08 bolívares por dólar.

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Para os venezuelanos comuns, que não podem importar alimentos e não têm um cartão de crédito estrangeiro, a taxa de câmbio que encontram nas ruas é muito superior: 1.000 bolívares por dólar.

Esta cara taxa de câmbio é aplicada a quase tudo o que é importado ou que requer ingredientes importados. Isso engloba a maioria dos bens na Venezuela, que dependeu durante muito tempo de sua riqueza petrolífera para adquirir o que precisa.

Sob esta taxa, o salário mínimo se reduz a menos de 20 dólares por mês.

Inclusive para os venezuelanos que ganham mais que isso, a hiperinflação atinge seus bolívares, fazendo com que as coisas sejam inimaginavelmente caras.

Isso faz com que a classe média, que está caindo na pobreza, encare todos os bens, salvo os alimentos, como um luxo. Comprar um hambúrguer, ir ao cinema ou uma diária de hotel estão simplesmente fora de seu alcance.

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“Todos estão caindo”, afirma à AFP Michael Leal, gerente de uma ótica de 34 anos. “Não podemos respirar”.

Lojas fechadasEm Chacao, bairro da classe média de Caracas, um grupo de funcionários públicos faz fila em uma loja de mantimentos para comprar o almoço mais barato possível. Ao redor, os restaurantes estão vazios.

Vista de cima, Caracas se parece com qualquer outra cidade da América Latina, com arranha-céus, estradas de tráfego intenso e pedestres que caminham com pressa.

Mas um olhar um pouco mais atento descobre um profundo mal-estar econômico. Muitas lojas, especialmente de produtos eletrônicos, fecharam as portas.

“Está horrível agora”, diz Marta González, de 69 anos, dona de uma loja de produtos de beleza.

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“Não há compras, só se compra comida”, prossegue a mulher, enquanto atende uma cliente que paga com cartão débito um par de lâminas de barbear descartáveis.

Um cartaz colado no caixa indica: “Não aceitamos cartões de crédito”.

Filas e mais filas No mesmo bairro, um moderno e elegante shopping center com vários restaurantes, um espaçoso Hard Rock Café e lojas de redes internacionais como Zara, Swarovski ou Armani Exchange está deserto, salvo pela presença de seus entediados funcionários.

Em contraste, quase 200 pessoas fazem fila pacientemente para entrar em uma farmácia.

Não sabem exatamente o que vão comprar, mas é a rotina destes tempos, fazer fila para tentar adquirir algum produto de higiene pessoal de preço regulado, como, por exemplo, pasta de dente, antes que esgote, o que normalmente ocorre em poucos minutos.

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“Fazemos isso toda semana. Não sabemos o que vamos poder comprar”, afirma Kevin Jaimes, vendedor de autopeças de 21 anos que espera junto a sua família. “O difícil é quando há uma fila gigante e todos estão cansados antes de chegar”, acrescenta.

Quando não é possível adquirir os produtos de preço regulado nas lojas, a única alternativa é se dirigir aos revendedores no mercado negro, que os oferecem cem vezes mais caros.

Jaimes vive com a família – um total de sete pessoas – e tenta se virar com um salário de 35.000 bolívares ao mês, o correspondente a 35 dólares.

É muito pouco para que possa sequer pensar em ir uma vez ao cinema do shopping, onde a entrada custa 8.800 bolívares.

Se conseguisse de algum jeito entrar no cinema, o letreiro anuncia os mesmos filmes em exibição nos Estados Unidos: “Capitão América 3: Guerra Civil”, “Mogli” e “Angry Birds: o filme”.

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Mas uma ida ao cinema e um saco de pipoca são luxos que os venezuelanos dificilmente podem se permitir nestes dias.

Preço da farinha de milho sobe 900%

O preço do quilo da farinha de milho – ingrediente básico da arepa, prato típico da Venezuela – foi reajustado em 900% na segunda-feira (23), para incentivar a produção e reduzir a grave escassez de alimentos básicos.

Congelado há 15 meses, o preço do quilo da farinha de milho passou de 19 para 190 bolívares (19 dólares à taxa decretada pelo governo para a importação de alimentos e remédios), informou a Superintendência de Preços Justos.

Na Venezuela, o governo socialista aplica um férreo controle de preços sobre os alimentos e outros bens de primeira necessidade, o que segundo os empresários não permite cobrir os custos de produção.

A farinha de milho é um dos produtos da cesta básica, e a Associação Venezuelana de Indústrias da Farinha reclamava há tempos um ajuste de preços.

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A Venezuela tem a inflação mais alta do planeta: 180,9% em 2015 e uma projeção de 700% para 2016, segundo o FMI.

A Superintendência também reajustou o preço do frango, que passou de 65 para 850,37 bolívares o quilo, acabando com um congelamento que remontava a fevereiro de 2015.

O vice-presidente da Economia, Miguel Pérez Abad, havia anunciado no início de maio uma atualização dos preços dos produtos tabelados para reconhecer os custos de produção.

A chamada “Lei dos Preços Justos” fixa uma margem de rentabilidade de 30% para todos os bens e serviços, mas no caso de alimentos e remédios, o ministro disse que os empresários se “comprometeram” com percentuais de entre 14 e 20 pontos.

O governo espera que os novos preços - e a recente modificação na política cambial - ajudem a reanimar a atividade industrial, no momento em que há uma ociosidade de 55% na capacidade produtiva devido à falta de divisas, à incerteza política e ao racionamento de energia.

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