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Tensão na Venezuela

Venezuelanos voltam às ruas contra Maduro. Guaidó convoca greve geral

Manifestante carrega cartaz contra a ditadura de Nicolás Madura, em Caracas. Matias Delacroix/AFP (Foto: AFP)

O presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, convocou nesta quarta-feira (1º) os servidores públicos a aderirem aos protestos contra o ditador Nicolás Maduro e pediu o início de um movimento que culmine com uma greve geral no país. "Nesta fase de nossa luta, não há retorno para as ruas e os protestos já que estamos próximos de conquistar nossos objetivos", escreveu ele em uma rede social.

"A partir de amanhã, todos os funcionários públicos e de serviços estratégicos devem ocupar seus espaços de trabalho para reclamar da usurpação [de Maduro]", afirmou. Guaidó pediu que esses funcionários usem a bandeira da Venezuela ou um pano azul na roupa (que simboliza o apoia à oposição).

Segundo ele, essas ações localizadas devem continuar crescendo até ser possível uma greve geral no país. Mais cedo em discurso em Caracas, ele convocou a população a retomar os protestos nesta quarta, depois de um dia de conflito nas ruas de Caracas.

“Aos nossos trabalhadores, reconhecemos o valor do trabalho digno, que dê bem estar e progresso. Hoje sabemos que não há salários suficientes, que ignoram seus direitos e conquistas. Nos vemos nas ruas!”, disse ele pelo Twitter.

Aliados de Maduro seguem dizendo que Guaidó não tem força popular para conseguir uma greve geral e também tentam mobilizar apoiadores.

Ex-candidato à presidência, o opositor Manuel Rosales também usou as redes sociais para convocar protestos no país. "Hoje, 1º de maio, vamos todos pela cessação da usurpação. Esta é a fase final da Operación Libertad e a Venezuela precisa de nós, hoje mais do que nunca, unidos e mobilizados nos pontos de convocação em cada estado", disse.

Em resposta à convocação de Guaidó, dezenas de pessoas foram até a Plaza Francia de Altamira. Os manifestantes começaram a chegar por volta das 8h30 (horário local). Manifestantes também se reuniram em El Marqués, em Caracas, onde milhares acompanharam um discurso de Guaidó, por volta das 13 horas (horário local).

O presidente interino da Venezuela seguiu defendendo as mobilizações contra o regime do ditador Nicolás Maduro.

Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, discursa para manifestantes. Foto: AFP
Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, discursa para manifestantes. Foto: Federico Parra/AFP (Foto: AFP)

"Esta geração de venezuelanos levará o país adiante. Temos homens e mulheres decididos a fazê-lo. Nunca retrocedemos. Já não temos mais apenas os soldados em Cúcuta (que desertaram em fevereiro), os sargentos de Cotiza, mas os militares de La Carlota", disse Guaidó.

Ele prometeu continuar com ações diárias, até a queda de Maduro, e disse que a única maneira de haver um golpe de Estado é se o prenderem. Guaidó também falou que há planos de convocar paralisações parciais de trabalhadores para os próximos dias. "Amanhã vamos seguir a proposta que nos fizeram de paralisações escalonadas, até conseguir uma greve geral", disse.

Manifestantes anti-Maduro se concentram em Caracas. Foto: Federico Parra/AFPManifestantes anti-Maduro se concentram em Caracas. Foto: Federico Parra/AFP (Foto: AFP)

Violência nas ruas

Ao menos 78 pessoas ficaram feridas nesta quarta, na Venezuela, em decorrência dos confrontos entre manifestantes contrários ao ditador Nicolás Maduro e as forças leais ao regime, informou a Assembleia Nacional (de maioria opositora).

Segundo a deputada Manuela Bolívar, 89 manifestantes foram detidas pelo regime em todo o país. Na terça, outras 150 pessoas tinham sido presas. Ainda de acordo com a deputada, protestos ocorreram em 397 pontos no país e as forças do regime reprimiram 23 desses atos. O regime Maduro não divulga números oficiais de feridos ou detidos nos atos.

Pela manhã, enquanto Guaidó discursava, a Guarda Nacional Bolivariana entrava em confronto com manifestantes nos arredores da Base Aérea La Carlota. A Guarda usou gás lacrimogêneo contra os venezuelanos que protestavam no local.

Segundo o jornal Infobae, a Guarda Nacional Bolivariana também reprimiu com gás lacrimogêneo um protesto na região de El paraíso, em Caracas, durante a manhã desta quarta-feira.

Em Santa Mônica, outro dos pontos de convocação de manifestantes situados no oeste da Grande Caracas, a Guarda Nacional também reprimiu com gás lacrimogêneo aqueles que se reuniram com bandeiras e chapéus tricolores. A informação é do jornal Efecto Cocuyo.

Conflito entre manifestantes e as forças de segurança comandadas por Maduro. Foto: Matias Delacroix/AFPConflito entre manifestantes e as forças de segurança comandadas por Maduro. Foto: Matias Delacroix/AFP (Foto: AFP)

A Guarda nacional também apreendeu equipamentos de som de manifestantes em Guayana. O material seria usado no ponto de chegada da mobilização convocada por Guaidó, em Cruz del Papa.

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, já advertiu as autoridades venezuelanas para que evitem um "uso excessivo da força" contra os manifestantes. Ela convocou todas as partes a "renunciarem à violência".

Maduro organiza marcha

Em resposta a Guaidó, o governo convocou uma marcha em Caracas para celebrar o Dia do Trabalho e mostrar apoio a Maduro. No início da tarde desta quarta-feira (1º), o ditador da Venezuela escreveu em uma rede social que se tratava de "uma grande marcha contra o golpismo".

"Hoje a classe trabalhadora se mobiliza em todo o país para celebrar seu dia e defender suas conquistas, com uma grande marcha que dirá não ao golpismo e não à interferência ianque. Nervos de aço, calma e prudência!", publicou ele.

Maduro já havia usado o Twitter pela manhã para parabenizar os trabalhadores venezuelanos. "A classe operária tem em mim um presidente que sempre defenderá os seus direitos e reivindicações, fazendo frente ao império e a seus lacaios que pretendem nos roubar nossas conquistas. Fracassarão. Nós venceremos!", escreveu ele.

Durante a marcha em Caracas, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte Diosdado Cabello, ligado a Maduro, disse que Guaidó não tem forças para convocar uma paralisação escalonada no país. "Para convocar uma greve escalonada, é preciso força. Guaidó tem força? Zero. Vejam quanta gente mobilizou hoje. [Eles] não têm povo para manejar, não têm povo para convencer de suas propostas, para que se mova com eles", disse Cabello à imprensa local.

Marcha de apoio a Maduro, convocada pelo governo do ditador. Foto: Yuri Cortez/AFPMarcha de apoio a Maduro, convocada pelo governo do ditador. Foto: Yuri Cortez/AFP (Foto: AFP)

Cabello comparou os atos de terça-feira (30) com uma tentativa de golpe de Estado comandada por Hugo Chávez. "Nós, em 1992, não pensamos em terminar em uma embaixada. Assumam sua responsabilidade", provocou, em referência ao fato de que o opositor Leopoldo López ter ido para a embaixada da Espanha após deixar a prisão domiciliar e participar de atos nas ruas de Caracas.

EUA não descartam ação militar

Em entrevista ao canal Fox Business nesta quarta-feira, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse que os Estados Unidos estão preparados para realizar uma ação militar para conter a turbulência na Venezuela. "O presidente (Donald Trump) foi cristalinamente claro e incrivelmente consistente. Ação militar é possível. Se for necessário, isso é o que os EUA farão", afirmou Pompeo. Ele disse, porém, que Washington preferiria uma transição pacífica.

Apoiadores de Maduro também foram para as ruas neste 1º de Maio. Foto: Juan Barreto/AFPApoiadores de Maduro também foram para as ruas neste 1º de Maio. Foto: Juan Barreto/AFP (Foto: AFP)

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