Os venezuelanos começaram a votar neste domingo (23) nas eleições regionais, uma prova de fogo para o projeto socialista do presidente Hugo Chávez, que converteu a escolha de governadores e prefeitos em um referendo sobre sua liderança.
Analistas prevêem que o governo manterá o controle da maioria dos 22 Estados. A eleição está bastante disputada em algumas localidades com alta carga simbólica, como o reduto opositor de Zulia, situado no oeste e fonte de grande parte da enorme produção de petróleo da Venezuela.
Uma vitória esmagadora de Chávez, com a reconquista de Zulia ou conseguindo fazer com que seus candidatos se imponham em Estados hoje nas mãos de dissidentes do governo, lhe daria força para retomar sua proposta de reforma constitucional que lhe permitiria eliminar os limites para a reeleição presidencial.
Além disso, Chávez se recuperaria de sua primeira derrota nas urnas desde que chegou ao poder em 1998, ocorrida no ano passado, quando os venezuelanos surpreendentemente rejeitaram uma mudança na Carta Magna que lhe abriria as portas para a reeleição sem limites.
Após votar em uma região pobre de Caracas, Chávez mandou uma mensagem de calma e pediu paciência durante a espera dos resultados, que em dias passados, segundo ele, a oposição pretendia desconhecer.
"Estou esperançoso de que todos saberemos estar à altura do clima que se respira. No fim da jornada, ... que ninguém entre em desespero. Ninguém pode entrar em desespero, vamos esperar os resultados com calma", afirmou.
Para a oposição, que teve alguns de seus melhores candidatos impugnados politicamente para participar da eleição, seria uma vitória arrebatar algum dos Estados governistas, como o industrial Carabobo ou o populoso Miranda, e manter seus bastiões regionais.
O contrário significaria que os adversários de Chávez fracassaram em capitalizar o inesperado revés eleitoral do presidente no referendo constitucional.
De Havana, o líder cubano Fidel Castro, considerado por Chávez seu "pai político", disse que "qualquer um que seja o resultado das eleições para escolher as autoridades locais e regionais, não será fácil apagar a chama acesa da Revolução".
Cerca de 16,9 milhões de venezuelanos estão habilitados a votar. Serão eleitos 22 governadores, além de prefeitos e outras autoridades locais, diante da observação atenta de 130 observadores internacionais e cerca de 140 mil militares vigiando o processo.
As urnas foram abertas às 6h (8h30 em Brasília) e a votação foi encerrada formalmente dez horas depois. O voto é eletrônico, mas as longas filas formadas em algumas seções fez com as urnas fossem fechadas mais tarde em alguns locais.
A Corte Nacional Eleitoral não informou quando serão divulgados os primeiros dados da apuração.
Tudo ou nada
Em Caracas, seguidores de Chávez começaram às 4h um toque militar de corneta por todos os bairros da cidade para tirar as pessoas da cama e estimulá-los a sair às ruas para votar desde cedo, em meio a fogos de artifício que iluminavam o céu.
Chávez percorreu freneticamente o país durante a campanha eleitoral para pedir o voto em seus candidatos, argumentando que o futuro de sua "revolução socialista" está em jogo e que votar contra seus aliados significa trai-lo.
Sem economizar na retórica agressiva, o presidente venezuelano até ameaçou "levar os tanques às ruas" se algum de seus candidatos perder. Ele falou também em prender rivais que não aceitem a derrota.
Enquanto isso, seus seguidores, agrupados no Partido Socialista Unido da Venezuela, colocaram em marcha uma gigantesca máquina eleitoral para combater a abstenção em um país onde o voto não é obrigatório.
Apesar da popularidade de Chávez superar os 50 por cento, muitos venezuelanos estão desiludidos com o governo, que combate a pobreza com um batalhão de programas sociais financiados com a renda petrolífera, mas que não consegue domar a inflação fora de controle, reduzir a insegurança e melhorar a infra-estrutura caótica.
Os preços ao consumidor já acumulam neste ano um aumento de quase 25 por cento, alimentados pelo câmbio fixo que analistas consideram sobrevalorizado, pelo consumo interno aquecido e pelos numerosos controles de preços.
Além disso, a forte queda da cotação internacional do petróleo coloca um desafio para o governo, que usa a petrolífera estatal PDVSA para financiar grande parte das realizações do governo, desde a construção de estradas até a distribuição de alimentos para evitar o desabastecimento.
Como a PF costurou diferentes tramas para indiciar Bolsonaro
Cid confirma que Bolsonaro sabia do plano de golpe de Estado, diz advogado
Problemas para Alexandre de Moraes na operação contra Bolsonaro e militares; assista ao Sem Rodeios
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
Deixe sua opinião