Está tudo praticamente pronto na Base de Baikonur, no Cazaquistão, para o lançamento hoje à noite do primeiro brasileiro ao espaço. O tenente-coronel Marcos César Pontes parte como astronauta visitante para uma missão de oito dias na Estação Espacial Internacional, acompanhando o americano Jeffrey Williams e o russo Pavel Vinogradov que passarão seis meses no espaço como integrantes da 13 tripulação do laboratório. O lançamento está previsto para as 23h30m de hoje (horário do Brasil), da mesma plataforma de onde partiu Yuri Gagarin há 45 anos.
Os dois dias que antecederam o lançamento foram de intenso trabalho na base. Na terça-feira, antevéspera da viagem, a movimentação começou de madrugada sob temperaturas negativas e um vento cortante. Eram 6h30m, mas nada indicava que amanheceria em menos de uma hora. Em meio à noite fechada, no cenário quase lunar da planície cazaque, a única luz vinha do hangar onde se encontrava o foguete Soyuz TMA-8 que levará Pontes à estação.
Alguns poucos militares russos eram vistos nos arredores, resmungando, o vapor saindo de suas bocas a realçar o frio extremo. Do lado de fora, o hangar parecia uma instalação abandonada há anos, com seus vidros quebrados, paredes sujas e nenhum letreiro indicativo do que ocorria lá dentro. Mas quando a gigantesca porta de aço começou a deslizar, lentamente, descortinou uma imagem do interior do hangar típica dos filmes de ficção. Deitado sobre um vagão, o foguete revelava a parte de baixo dos propulsores, emoldurada pelo vão da porta.
O vagão passou, então, a rolar com vagar sobre o trilho, apresentando, aos poucos, os 39 metros de extensão do foguete: os motores, os três estágios e, finalmente, a nave Soyuz propriamente dita, com as bandeiras dos EUA, da Rússia e, pela primeira vez, do Brasil. Ao todo, um milhão de peças e milhões de dólares a serem inteiramente queimados nos próximos dez dias.
Eram 7h. O horário da saída do foguete do hangar é sempre o mesmo, desde 1961, quando Gagarin foi lançado dessa mesma base para se tornar o primeiro homem a alcançar a órbita da Terra.
O dia amanhecia à medida que o foguete seguia pela estepe, cruzando a base em direção à plataforma de lançamento Yuri Gagarin, onde chegou uma hora e meia depois. Numa manobra delicada, realizada sob o sol que a essas alturas brilhava forte, o foguete foi erguido vagarosamente, até ficar completamente em posição vertical, pronto para o lançamento.
Ontem, a previsão era de um dia também agitado. O foguete seria abastecido com 200 toneladas de combustível líquido. Depois, estava prevista uma simulação do embarque, em que os três astronautas vestirão seus trajes espaciais e entrarão no módulo, no teste final antes do lançamento. Ontem, também, os astronautas passariam por um último teste clínico para atestar suas condições de saúde para a viagem ao espaço.
As oito experiências que Pontes levará à estação espacial seriam embarcadas ontem, entre 10h e 11h. Cada um dos testes que serão realizados em microgravidade foram analisados pelos russos. São nada menos que mil páginas de análise para atestar a segurança de cada um deles.
- Nossa principal preocupação é que eles sejam seguros para a tripulação e para a estrutura da Soyuz e da estação - afirmou Serguei Frolov, responsável russo pelas experiências brasileiras.
Serguei ressaltou a originalidade da experiência enviada pelo Centro de Pesquisa Renato Archer, de Campinas, cujo objetivo é verificar como as proteínas se misturam em ambiente de microgravidade. Ele ressaltou ainda o aspecto educacional de dois dos testes, que serão realizados concomitantemente no espaço e em terra, com o devido acompanhamento de alunos de escolas secundárias. Serguei sustentou, no entanto, que todas as experiências a serem feitas por Pontes durante seus oito dias de permanência no espaço já foram realizadas antes por astronautas europeus.
- O importante é que, no futuro, saberemos preparar essas experiências. E estamos nos capacitando para a produção de peças para a estação espacial. Nossa maior fronteira é mostrarmos também capacitação para produzir peças para vôos espaciais - afirmou o gerente da Missão Centenário, Raimundo Mussi, da Agência Espacial Brasileira (AEB). - Além disso, estamos dando visibilidade ao programa espacial brasileiro. Nossa bandeira e nosso logo estão ali e repórteres de todo o mundo estão registrando isso. O Brasil agora faz parte do restrito grupo de países que têm um programa espacial. Se não apostarmos nisso agora e deixarmos para o futuro, será tarde demais.