O vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, acusou nesta terça-feira (23) a oposição de tentativa de fraude no referendo do último domingo (21) sobre a possibilidade de o presidente Evo Morales concorrer a um quarto mandato consecutivo em 2019.
À medida que avança a apuração dos votos, o governo vê cada vez mais distantes as chances de uma virada nos números. Às 15h30 desta terça (de Brasília), com 87% dos votos apurados, o “não” vencia por 52,65% contra 47,35% do “sim”. A diferença era menor que a registrada na segunda-feira, mas era praticamente impossível que a possibilidade de mudança constitucional fosse aprovada no referendo.
Segundo Linera, a oposição tentou atrapalhar o voto nas áreas rurais, onde há um apoio grande ao governo, com ações observação das sessões e “pressão” nos centros de apuração. “É uma mobilização de pressão que fere as regras eleitorais e encobre uma fraude eleitoral para que não se contabilize o voto [rural]”, disse Linera, em coletiva de imprensa.
Segundo o jornal boliviano “La Razón”, ativistas do “não” teriam instalado vigílias em frente a centros de apuração em La Paz, Cochabamba, Santa Cruz e Chuquisaca. Os dois primeiros departamentos (Estados), contudo, eram os únicos entre os nove em que o “sim” aparecia à frente na apuração. Em Oruro, foi registrado empate em praticamente todo o período de apuração.
“Estamos empatados. Vai ser definido com pouquíssima diferença e estamos atentos para que ninguém a escamoteie e roube o voto do povo”, disse Linera, sem, entretanto, apresentar provas para as acusações.
A missão de observação eleitoral da OEA (Organização dos Estados Americanos) chegou a dizer, na segunda, ter detectado algumas irregularidades no processo do referendo, mas descartou que sejam consideradas provas de fraude.
Otimismo
O presidente Evo Morales, por sua vez, tentou parecer otimista mesmo com a iminente derrota do “sim”. Mas reconheceu: “se ganharmos será por poucos votinhos, se perdermos será por poucos votinhos”.
Se confirmada, será a primeira derrota de Evo nas urnas desde sua chegada ao poder, em 2006. Será também mais um elemento no movimento que enfraquece governos de esquerda na região, após Argentina e Venezuela.
O referendo constitucional foi convocado para decidir se deveria ser modificado o artigo 168 da Carta, que diz que os presidentes só podem concorrer a uma reeleição.
Em 2014, Evo, que já estava havia oito anos no poder, obteve permissão da Corte Suprema para concorrer ao terceiro período, porque a primeira gestão, sendo anterior à Constituição promulgada em 2009, não contaria.