O fato de disputar o segundo cargo mais importante dos Estados Unidos enquanto tem um filho recém-nascido com síndrome de Down e uma filha adolescente grávida está rendendo críticas e elogios à governadora do Alasca, Sarah Palin.
Muitos acham que uma mulher de 44 anos que tem cinco filhos, inclusive um com necessidades especiais, não deveria se comprometer com um cargo que a manterá afastada de casa durante a maior parte dos próximos anos.
Nos EUA, as mães que trabalham são submetidas a uma espécie de julgamento moral. Quase dois terços das mulheres com filhos em idade pré-escolar estavam na força de trabalho em 2003, segundo os últimos dados oficiais. Ricas e pobres, famosas e anônimas se deparam com as mesmas questões e preconceitos.
Palin foi escolhida em parte porque assume posturas que agradam ao eleitorado conservador republicano, que até agora retribui se solidarizando com ela e com a filha, que está grávida aos 17 anos, solteira, contrariando os preceitos cristãos tradicionais. A menina decidiu ter o filho e se casar.
"Não posso ignorar a parte da escritura que diz que é responsabilidade dos pais criar o filho. Mas acredito que alguns pais possam criar bem seus filhos e não ficar em casa o tempo todo", disse Lindsay Matlock, voluntária antiaborto na convenção republicana desta semana em Minnesota.
"Minha única ressalva é que o filho dela tem síndrome de Down e... ela fica muito tempo longe", disse Matlock, 21 anos.
O psicólogo Bill Maier, vice-presidente do grupo conservador cristão Foco na Família, saiu em defesa da candidata, dizendo que ela "parece ser capaz de manter um equilíbrio entre trabalho e família".
SEXISMO?
Só o fato de os norte-americanos debaterem se uma mulher com um filho recém-nascido deve ocupar um cargo de responsabilidade já irrita Carol Evans, presidente e executiva-chefe da editora que publica a revista Working Mother ("mãe trabalhadora").
"O centro [do debate] deveria ser o fato de que os Estados Unidos é o único país desenvolvido sem licença maternidade paga, e não se [Palin] pode voltar ao trabalho com um filho de quatro meses", disse Evans, lembrando que em média a mãe norte-americana volta ao trabalho 11 semanas após o parto.
O que se pergunta em todo o espectro político é: essas perguntas surgiriam se Palin fosse homem?
"Se dissermos que uma mulher não pode ter uma carreira quando seus filhos são bebês, estamos discriminando com base no gênero", disse a engenheira democrata Barbara Matousek, 41 anos, mãe de um filho de oito meses, que está trabalhando. A preocupação dela é com a filha mais velha de Palin.
"O que me perturba é como qualquer pai, homem ou mulher, pode concordar em assumir esta posição tão pública num momento em que sua filha está tão frágil. Ser uma colegial de 17 anos grávida e solteira já seria bastante duro sem o mundo inteiro olhando."
Alguns eleitores vêem autenticidade em Palin e consideram que a gravidez da filha adolescente mostra que se trata de uma família normal.
"Isso está acontecendo em todos os Estados Unidos. Acho que as pessoas vão se identificar com ela. As pessoas querem votar em gente como elas", disse a republicana Pat Lynch, 42 anos, corretora de commodities na Bolsa Mercantil de Chicago.
Os EUA têm uma das maiores taxas de parto por adolescentes no mundo desenvolvido. A oferta de educação sexual e anticoncepcionais varia segundo cada Estado.
A republicana Jacqueline McMahon, do Kansas, acha que os filhos de Palin não deveriam ser assunto. "Se ela está qualificada para o cargo [o resto] é totalmente fora da sua conta", disse a empresária de 39 anos, mãe de dois filhos. "A mãe do Barack Obama o teve aos 18 anos. Acho que isso não é uma questão."
O fato de Obama ter sido filho de uma mãe adolescente e de ter de passar longos períodos afastado das duas filhas, de 7 e 10 anos, raramente são abordados de forma crítica por rivais dele.