Abdelhafidh Ghoga, vice-presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT) governo provisório da Líbia anunciou ontem à rede de televisão do Qatar Al Jazeera que pedia demissão "pelo interesse da nação", depois que centenas de manifestantes pediram que renunciasse. "Escolhi me demitir pelo interesse da nação", declarou Ghoga por telefone.
As declarações chegam um dia após a sede do CNT em Benghazi ter sido invadida por manifestantes.
Os rebeldes, armados com pedras e barras de ferro, atacaram o local e saquearam suas instalações, segundo declarou um funcionário do CNT. Antes disso, segundo testemunhas, bombas caseiras foram jogadas contra a sede, sem deixar vítimas.
Após o início do ataque, o presidente do CNT, Mustafa Abdul Jalil, dirigiu-se à entrada do prédio para tentar acalmar os manifestantes, mas estes o xingaram e jogaram garrafas de plástico em sua direção.
Segundo testemunhas, uma brigada de ex-rebeldes abriu uma passagem para permitir que Abdul Jalil e outros membros do Conselho deixassem o prédio.
Os incidentes ocorrem na véspera do anúncio da lei eleitoral elaborada pelo CNT prevendo a eleição em junho de uma assembleia constituinte e a formação de uma comissão eleitoral.
Manifestações
O ataque de sábado é um duro golpe para o CNT e ressalta o crescente descontentamento popular como a forma como o país vem sendo governado.
Uma multidão tem protestado nas últimas semanas em Benghazi, berço da revolta que levou à queda do ditador líbio Muammar Kadafi, para exigir a demissão de oficiais que serviram o antigo regime e mais transparência do CNT no uso do dinheiro público.
Muitos daqueles que lutaram na revolta que terminou com a captura e morte de Kadafi, em outubro passado, estão infelizes com compensações em dinheiro prometidas pelo governo interino, afirmando que não cobrem suas necessidades básicas.
Funcionários do governo interino, por sua vez, dizem que é impossível para eles despedir centenas de oficiais simplesmente por terem servido Kadafi, mas que aqueles comprovadamente envolvidos em abusos ou fraudes financeiras serão demitidos.
A CNT enfrenta atualmente, entre outros problemas, o desmantelamento de dezenas de milícias poderosas que efetivamente controlam o país. Os ministérios do Interior e da Defesa buscam integrá-las em uma força militar e policial unificada, mas os chefes destas milícias têm mostrado pouco interesse na proposta.