Ao menos nos próximos 20 dias após a realização da cirurgia para a retirada do câncer de Cristina Kirchner, marcada para dia 4 de janeiro, o vice-presidente argentino Amado Boudou será o novo chefe do Executivo do país. Empossado recentemente, após as últimas eleições, Boudou agora enfrenta a responsabilidade de assumir a posição de presidente, em um governo concentrado na figura da Cristina, que jamais ficou tanto tempo longe do poder.
De jeito extravagante e guitarrista nas horas vagas, Boudou chegou a tocar com sua banda de rock em comícios do partido governista e exibir sua Halley Davidson em turnês pela Argentina.
Ex-ministro da Economia do primeiro mandato da presidente, ele ganhou a simpatia da presidente. Em discurso em uma reunião na Casa Rosada, apenas alguns dias antes de descobrir sobre seu câncer de tireoide, ela brincou com seu vice perguntando "Como está sendo sua estreia aqui? Está bem? Está sendo tranquila? Bárbaro, me encanta!".
Boudou foi escolhido para ocupar o cargo após embates de Cristina com seu antigo vice, Julio Cobos. Cobos chegou a substituí-la por 186 dias, não corridos, entre os anos de 2007 e 2011, segundo informações do jornal argentino "Clarín". No entanto, ele e a presidente não se entenderam. Ressentido com a desavença, o Cobos disse recentemente que sofreu "maus tratos, insultos constantes e desqualificação" enquanto ocupava o cargo. Ele argumenta que Cristina tem "uma forma de governar muito intensa" e que não leva em conta outros poderes do Estado, impondo suas decisões sem diálogo.
O ex-vice se afastou do governo em 2008, após disputas de espaço com Cristina. Fontes ligadas ao governo afirmam que Cobos não podia sequer "pisar" na Casa Rosada. Quando a presidente viajava, a substituição era puramente formal.
Já Boudou foi escolhido pessoalmente por Cristina para a chapa presidencial das últimas eleições. Ele também já a substituiu por algumas horas na semana passada, quando a presidente viajou ao Uruguai para participar da cúpula do Mercosul. Analistas vêem o atual vice como um símbolo de poder delegado, sem representações de setores. Ele terá 20 dias para provar sua lealdade a Cristina ou deixar sua marca e criar um impasse.
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