Ouça este conteúdo
A realidade da guerra é especialmente cruel com as crianças, a população mais vulnerável em qualquer país do mundo.
Na Ucrânia, além da violência que elas sofrem e dos deslocamentos forçados, o conflito iniciado com a invasão dos russos em fevereiro do ano passado interfere na educação, já que os bombardeios impedem ou alteram a rotina escolar e, nas áreas ocupadas pelo Kremlin, o ano letivo começou com doutrinação russa.
A triste presença da guerra na vida das crianças, porém, não se resume à Ucrânia. Segundo a ONG britânica Save The Children, uma em cada seis crianças no mundo vive numa região de conflito armado.
A organização já havia divulgado o seu ranking dos países mais perigosos para crianças devido a guerras e este mês “atualizou” o levantamento, ao destacar a situação do Sudão, país que hoje possui o maior número de deslocados internamente em todo o mundo em razão de mais uma disputa violenta por poder, iniciada em abril.
Confira abaixo os países em pior situação no que diz respeito aos efeitos da guerra na vida das crianças:
Sudão
O país africano já tinha um grande número de deslocados, mas desde que a guerra voltou com força total no primeiro semestre deste ano, o número de pessoas obrigadas a deixar suas casas chegou a 7,1 milhões, das quais 3,3 milhões são crianças. O contingente de deslocados quase dobrou desde abril.
“Milhões de crianças e famílias deslocadas precisam de ajuda agora. Elas precisam de comida, água, abrigo, roupas, medicamentos – o básico absoluto. Além disso, necessitam de apoio psicológico para ajudar a lidar com o intenso estresse que sofrem”, declarou Arif Noor, diretor nacional da Save the Children no Sudão.
“As crianças estão em fuga há quatro meses; perderam familiares e viram as suas casas e escolas, locais onde antes se sentiam seguras, serem transformadas em escombros”, disse.
A ONG apontou que pelo menos 435 crianças foram mortas no conflito e outras 498 morreram de fome desde o início da guerra, mas projeta-se que o verdadeiro número de vítimas seja muito maior.
Afeganistão
Desde a desastrosa retirada americana em 2021 e a volta do Talibã ao poder, o Afeganistão se tornou palco de uma grave crise econômica, repressão cada vez maior contra meninas e mulheres e intensificação dos ataques terroristas.
A Save The Children destacou que muitas crianças estão sendo obrigadas a deixar a escola e a procurar trabalho. Uma criança a cada 16 morre no Afeganistão antes de completar cinco anos de idade, um índice três vezes maior que o registrado nos Estados Unidos. Ao todo, 19,7 milhões de crianças e adultos, quase metade da população, passam fome.
República Democrática do Congo
Conflitos armados são rotina na República Democrática do Congo desde a independência do país, em 1960, e desde 2022, a volta da violência no leste do país gera novamente grandes deslocamentos de afetados pela guerra.
A RDC é um dos cinco países mais pobres do mundo, e as péssimas condições de vida são agravadas pelos conflitos. De acordo com a Save The Children, 42% das crianças menores de cinco anos sofrem atraso no crescimento devido à desnutrição no país e 86% das que têm dez anos de idade não sabem ler.
Síria
Doze anos de guerra geraram um caos humanitário do qual a Síria ainda está muito longe de se recuperar – o devastador terremoto ocorrido no país e na Turquia em fevereiro deste ano, matando quase 8,5 mil sírios, agravou a situação.
Ao todo, 15,3 milhões de pessoas, 75% das quais são mulheres e crianças, necessitam de assistência humanitária, destacou a Save The Children.
Devido aos confrontos entre as tropas do ditador Bashar al-Assad e forças rebeldes, com seus respectivos aliados, 77% da população foi deslocada à força e 2,4 milhões de crianças estão atualmente fora da escola.
Iêmen
Apesar do cessar-fogo que entrou em vigor em abril de 2022 ter diminuído consideravelmente os confrontos no Iêmen, a população do país e, especialmente, suas crianças ainda sentem os efeitos da guerra iniciada em 2014.
Mais de 4,5 milhões de pessoas foram deslocadas internamente pelo conflito, metade delas crianças. O contingente de crianças gravemente desnutridas chega a 2 milhões.