Uma pesquisa divulgada neste mês pelo Latinobarómetro, instituto de pesquisa de opinião pública, com sede em Santiago, no Chile, trata da percepção dos latino-americanos quanto aos principais problemas da região. Para o estudo batizado de "A Segurança Cidadã O Problema Principal da América Latina", foram ouvidas 20.204 pessoas.
Em 11 dos 18 países onde a pesquisa foi conduzida, a maioria dos entrevistados apontou a violência como principal problema. As autoras do trabalho, Lucía Dammert e Marta Lagos, dizem que o resultado é reflexo da democracia e que os habitantes começam a perceber segurança como um direito.
As pesquisadoras consideram que esse tema será o principal desta década, assim como o desemprego foi o de maior repercussão entre 2000 e 2010. Segundo o relatório, os crimes são o ponto fraco da América Latina e acabaram substituindo o medo do autoritarismo que marcou vários países latino-americanos. Sem solucionar esses problemas, "dificilmente essas sociedades poderão alcançar democracias de maior qualidade".
Dimas Floriani, coordenador acadêmico da Casa Latino-Americana (Casla), aconselha calma ao analisar os dados. "É preciso considerar o contexto em que a pesquisa foi feita no último ano. A percepção é temporária, depende do momento do país e há uma forte influência da mídia no reforço do medo e violência. Mesmo que você não tenha passado por isso, começa a internalizar esse sentimento", explica.
O sentimento de segurança também é influenciado pelo índice de confiança depositada nas forças do Estado, como a polícia. Um acompanhamento de 1996 a 2011 mostra que, de 2007 em diante, a confiança diminuiu. "A maior presença dos temas violência e insegurança e o sentimento generalizado de que as instituições não respondem adequadamente aos fatos pode ser uma das interpretações. E, em geral, a polícia na América Latina tem sido associada a atos de corrupção por uso de força extrema e outros escândalos", disse Lucía Dammert por e-mail para a Gazeta do Povo. Mas a mudança não depende apenas do Estado. "O Estado é responsável pela segurança, pelo monopólio do uso da força para evitar problemas na administração da justiça. A sociedade tem um papel claro e importante nisto, principalmente na prevenção do delito", diz.
Bruno Peron, mestre em assuntos da América Latina pela Universidade Nacional Autônoma do México, acredita que a violência seja a consequência de uma "falta de coordenação democrática entre as diversas vozes da sociedade" e que o assunto não pode ser isolado. "Estamos falando do efeito, sem pensar muito na causa. Quando falamos em violência, temos de pensar que é um conjunto de fatores, principalmente educativo e cultural. Precisa-se de mais políticas públicas na educação e que isso passe por formação cidadã", explicou por telefone. A solução, grosso modo, envolve prevenção e não punição.