Cerca de 100.000 usbeques, fugindo da violência étnica dos quirguizes, rumaram nesta segunda-feira para a fronteira entre Quirguistão e Usbequistão, disse um líder usbeque, enquanto a maior violência étnica em 20 anos, na cidade de Osh, já deixou pelo menos 138 mortos e 1.800 feridos. Pelo quarto dia seguido, foram ouvidos tiroteios em Osh, cidade que fica a apenas cinco quilômetros da fronteira com o Usbequistão. O líder da comunidade usbeque afirma que pelo menos 200 corpos de usbeques já foram sepultados, enquanto representantes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha disseram que viram 100 corpos serem sepultados em apenas um cemitério.
O governo interino do Quirguistão, que chegou ao poder quando o presidente Kurmanbek Bakiyev foi derrubado por um motim popular em abril, tem sido incapaz de parar a violência. O governo interino acusa a família de Bakiyev de incitar a violência, conspirando para atrapalhar a realização de um referendo em 27 de junho sobre a nova Constituição. Os usbeques, que são uma minoria no Quirguistão, mas que no sul do país rivalizam com os quirguizes em número de habitantes, apoiam o governo interino. Muitos quirguizes, no sul do país, apoiam Bakiyev. O ex-presidente, atualmente no exílio na Bielo-Rússia, negou qualquer envolvimento com a violência em Osh.
Os Estados Unidos e a Rússia, os quais possuem bases militares no Quirguistão, têm trabalhado com voos de ajuda humanitária ao país, bem como as Nações Unidas. O vizinho Usbequistão já montou campos de refugiados perto da fronteira, para receber as milhares de famílias de refugiados, muitos dos quais são mulheres, crianças e idosos, vários deles, afirma o governo usbeque, com ferimentos a tiros.
Um repórter da Associated Press observou centenas de pessoas aguardando na passagem de Jalal-Abad, tentando cruzar a fronteira.
A comida e a água começam a escassear em Osh. Saqueadores armados invadiram lojas para roubar comida, mas também levavam itens como televisores.
Não era possível ver policiais nas ruas. Autoridades, porém, insistiam que havia postos de controle improvisados pela cidade. Carros roubados de usbeques étnicos andavam em alta velocidade por Osh, enquanto muitos jovens caminhavam com machados, paus e objetos de metal.
Outra cidade que sofre com a violência é Jalal-Abad, que fica a 40 quilômetros de Osh. Muitos quirguizes estavam, armados, na praça central dessa cidade, tentando viajar para o assentamento usbeque de Suzak. Eles queriam buscar um líder comunitário usbeque que, segundo eles, iniciou os distúrbios.
A Rússia enviou um reforço militar para proteger sua base no país. Os usbeques representam 15% da população de 5 milhões de pessoas do Quirguistão. No sul, o número deles é similar ao de quirguizes. O fértil Vale de Fergana, onde ficam Osh e Jalal-Abad, fica em uma área antes totalmente controlada por um senhor feudal. O ditador soviético Josef Stalin, porém, dividiu essas terras entre Usbequistão, Quirguistão e Tajiquistão, reavivando antigas rivalidades e tensões étnicas na área.
A administração da presidente interina Roza Otunbayeva projetava reforçar suas credenciais políticas e democráticas em um referendo para aprovar a nova Constituição, em 27 de junho. A probabilidade dessa votação ocorrer, porém, parece agora pequena.
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