Nova Orleans, EUA (AE/EFE) Devido à falta de segurança, a Agência Federal de Gestão de Emergências dos EUA (Fema) suspendeu ontem as operações de resgate em Nova Orleans. O pessoal da Fema considerou perigoso chegar a várias áreas da cidade para resgatar sobreviventes da enchente provocada pela passagem do furacão Katrina. A agência teme pela segurança de seus próprios trabalhadores.
Na manhã de ontem, foram registrados tiros contra helicópteros da Guarda Nacional que participavam da retirada de desabrigados. Os socorristas conseguiram tirar cerca de 3 mil ocupantes do Superdome e enviá-los para o Astrodome, um estádio de Houston, no Texas.
Até quarta-feira, havia 25 mil pessoas no Superdome, mas segundo autoridades locais o número não pára de subir. Já seria 60 mil o total de pessoas precariamente instaladas no local. Isso porque quem consegue escapar dos telhados e sótãos está procurando o estádio.
A falta de água, comida e energia elétrica tornou a convivência no local extremamente difícil. Focos de incêndio provocados pela queima de latões de lixo agravam a situação. No resto da cidade, também impera o caos. Desesperados com o fato de terem perdido os pertences na enchente, muitos habitantes de Nova Orleans estão promovendo saques pela cidade, uma situação que exigiu que o governo local decretasse a lei marcial.
"Estamos sendo tratados como animais. Não temos ajuda", queixou-se o pastor evangélico Isaac Clark, de 68 anos, do lado de fora do Centro de Convenções de Nova Orleans, onde corpos jazem ao ar livre e para onde alguns refugiados estão sendo encaminhados. Do lado de fora do centro de Convenções, as calçadas estão repletas de pessoas famintas, sem água potável ou assistência médica, e sem nenhum policial a vista. Milhares de refugiados vêm sendo levados ao local nos últimos dias, e esperam por ônibus de evacuação que nunca chegam.
Pelo menos sete corpos estão espalhados pela área. "Não trato meu cachorro desse jeito", disse Daniel Edwards, de 47 anos, apontando para o cadáver abandonado de uma mulher. "Eu enterrei meu cachorro." Ele acrescenta: "Você manda os militares para o estrangeiro, mas não consegue trazê-los até aqui."
A Casa Branca anunciou ontem que os EUA aceitarão qualquer oferta de ajuda do exterior nos esforços para contornar os danos causados pelo furacão Katrina. "Estamos abertos a toda e qualquer oferta de assistência de outros países", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan.
Horas antes, o presidente Bush havia se mostrado reticente a respeito do tema. "Valorizamos a ajuda, mas sairemos sozinhos do problema." No entanto, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, foi muito clara: "Aceitaremos todas as ofertas estrangeiras." Os prejuízos já são estimados em US$ 50 bilhões.